13 de maio de 2023. 135 anos se passaram desde a instituição da Lei Áurea no ano de 1888. É imprescindível refletir: quais foram as mudanças no imaginário brasileiro e quais foram os reflexos reais destas mudanças na vida cotidiana do negro brasileiro? Uma pergunta com respostas longas, complexas, decepcionantes e, antes de tudo, alarmantes.
Vivemos inseridos em uma sociedade que ainda, nos dias de hoje, vive regada e temperada a boas doses da chamada “Democracia Racial”, que mais opto em chamar de “Conveniência Racial”. O sistema social brasileiro se mostra, na contemporaneidade, como um projeto, muito bem montado no imaginário coletivo, de se aceitar o negro e a negra em nichos pré-estabelecidos e determinados.
Ainda não somos uma sociedade preparada, infelizmente, para aceitar e assumir os negros doutores, políticos, médicos, intelectuais, ou que, essencialmente, ocupam lugares de destaque e de poder. No entanto, somos uma sociedade totalmente democrática em relação ao negro se ele ainda estiver ocupando as senzalas sociais e os trabalhos subservientes.
Nada de pejorativo no termo subserviência, mas podemos sim, como negros, ocupar lugares diversos, não apenas os determinados por um sistema excludente baseado na hierarquia racial. Para tanto, ainda hoje, somos capazes de fazer com que pessoas negras sirvam a sociedade com trabalhos análogos à escravidão, com maus-tratos, má alimentação e remuneração precária. Trabalhos que não condizem com a realidade dos avanços feitos em 135 anos e que não garantem qualidade de vida.
Voltando ao ano de 1888, desta vez no dia 14 de maio, fica a provocação de que neste dia, o dia seguinte à abolição, inicia-se um processo de exclusão e de construção imaginária do negro que agora faz parte de uma sociedade a qual não pensou o espaço para estas pessoas. Resistência sempre!!
Nada a se comemorar, muita reflexão, muita luta e muita reverência aos Movimentos Negros, incessantes militantes e lutadores que vem, desde o Movimento Negro Unificado, conquistando e derrubando barreiras numa sociedade estruturada pelo racismo.
Por: Paulo Sergio Gonçalves, coordenador do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas (NEABI) e professor de direito, literatura e sociologia da Estácio.