À primeira vista, o Festival Sarau Cidadania e Cultura no Parque pode parecer um projeto como qualquer outro. Mas, basta sentar nas primeiras cadeiras, próximo ao palco, para entender que há um diferencial e ele tem nome: acessibilidade. Algo que pode ser constatado pelo público que passou durante os dois domingos de evento, realizado nas dependências do Centro Estadual de Educação Profissional Profª Maria de Lourdes Widal, no bairro das Moreninhas II.
E o último domingo, 28 de agosto, não só marcou o encerramento de um ciclo do Sarau, como foi o momento de pessoas como Leia Ferreira testar a qualidade dos serviços disponibilizados ao público. “Eu como pessoa com deficiência visual pude participar desse evento em igualdade de condições. É gratificante demais. Com o acompanhamento da audiodescritora Cândida Abes, pude acompanhar detalhes das apresentações de danças como, por exemplo, do grupo Expressão de Rua, com riquezas de informações que me emocionaram junto a música”.
Para a audiodescritora Cândida Abes, esse tipo de serviço no Mato Grosso do Sul ainda é uma novidade, ao contrário do que já vem sendo aplicado nas grandes cidades como São Paulo. “Foi uma sacada maravilhosa do Eduardo Romero de oferecer esse tipo de atendimento, porque não apenas democratiza a cultura e a cidadania como serve de exemplo para outras iniciativas. Estou feliz de fazer parte desta equipe”, pontua.
Para o servidor público Alexandre Mariano, que acompanhou a programação com auxílio dos recursos das libras, o Sarau do Parque está para lá de aprovado. “Ao longo da vida, eu aprendi a fazer uso da leitura labial. Conseguiria assistir grande parte dos artistas sem problema algum. Contudo, ter a linguagem de sinais é algo maravilhoso porque é um recurso a mais no meu caso e para quem não faz leitura labial, certamente, é um direito garantido de acesso em pé de igualdade às demais pessoas”.
Para o secretário de Cultura e Cidadania do Estado, Eduardo Romero, o Sarau no Parque vem nessa linha de integração. “Não se constrói Cidadania e Cultura sem livre democratização de acesso aos serviços ou programação, como é o nosso caso com as atrações culturais. Criamos o Sarau para que qualquer pessoa que participe se sinta acolhida. Temos cadeiras de roda, assento para pessoas com sobrepeso e, claro, libras e audiodescrição para receber os mais diferentes perfis de pessoas”, garante.
Prata da Casa
E o trabalho não para por aí. Outro desenho do projeto é incluir na grade de programação os talentos regionais de cada bairro, ou seja, por onde o Sarau no Parque passa sempre tem artistas dos bairros que sediam o evento. Cenário que contempla artistas de diferentes linguagens e faixas etárias, como Ednalva dos Santos, que coordena os trabalhos da Confraria de Arte e Artesanato das Moreninhas (CAAM) e o talento musical de Felipe Nogueira, cantor mirim de 9 anos de idade.
“Toda apresentação minha vem o frio na barriga. Aqui, não foi diferente. Mas, fiquei muito feliz tanto por apresentar na região onde moro como por ver a qualidade do evento que vai passar pelos bairros de Campo Grande”, diz o jovem artista sertanejo.
“O Sarau no Parque é política pública pensada também para a periferia. Isso é muito importante, porque a gente vê jovens e pessoas mais velhas fazendo arte. Esse acesso não tem preço, é uma satisfação enorme e espero que tudo isso aqui tenha continuidade”, afirma ela que complementa, “A Arcan está de portas abertas dentro das Moreninhas II seja para mostrar o nosso trabalho como para receber moradores que queiram participar de nossas atividades”, afirma Ednalva.
Ao se despedir das Moreninhas, com aprovação do público e dos artistas, a equipe do Festival Sarau Cidadania e Cultura no Parque já se prepara para desmontar a estrutura e seguir rumo a um novo bairro de Campo Grande. Os detalhes do itinerário serão divulgados, em breve, nas redes sociais,Instagram e Facebook , @saraunoparquems.
Vale lembrar que os nomes dos artistas selecionados para o mês de setembro já foram divulgados no Diário Oficial do Estado (DOE), da última quinta-feira, 25 de agosto, da página 37 a 40.