Mais de 40% dos estudantes adolescentes do país admitem já ter sofrido bullying. O dado faz parte da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), realizada no ano passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A informação não é novidade, muito menos o bullying, mas o tema vem à tona sempre que ocorrem casos como os ocorridos entre março e abril últimos envolvendo ataques a escolas e vitimando crianças e professores. Um dos motivadores desse tipo de violência, de acordo com especialista de Educação e Saúde, pode ser o bullying.
Neste mês de abril, em que o dia 07 foi reservado para marcar o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola, e em que ainda é celebrado (no dia 18) o Dia Nacional do Livro Infantil, a neuropsicopedagoga, especialista em bullying em ambiente escolar, Carollini Graciani, orienta que pais e professores abordem esta prática, caracterizada pela violência psicológica e física, em casa e em sala de aula, preparando as crianças para lidarem com tais situações.
“O bullying é um fósforo que acende as piores reações possíveis em uma criança e em um adolescente. Ele precisa ser tratado na escola através de projetos que evidenciem bastante o tema, envolvendo alunos, professores, famílias e a sociedade de modo geral. Precisa ser uma prática cotidiana da escola e não um assunto a ser debatido apenas através de uma situação que surja. Se não tratar o bullying cotidianamente, o projeto não tem valia. É no dia a dia de sala de aula que acontecem situações pequenas que precisam ser bem mediadas”, avalia.
Segundo Carollini, que é docente do curso de Pedagogia da Estácio, a literatura pode e deve ser utilizada como base para a abordagem do bullying, já que os livros trazem uma linguagem didática e lúdica sobre o tema para cada faixa etária, e indica ainda para as escolas a utilização de palestras, rodas de conversa, estudos de caso e teatro.
“Valorizo a educação infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental, pois é lá que se forma a base de caráter da criança. É neste período que temas como bullying e, principalmente, autoestima, devem ser discutidos. Eu percebo que a sociedade e as próprias famílias ainda não valorizam o trabalho feito na Educação Infantil, e que os responsáveis vêm cada vez deixando suas crianças pequenas muito sozinhas e sem orientação, quando a idade até os seis anos é a fase para moldar seu caráter. É nessa fase que a gente tem que falar sobre bullying, tem que falar de valores, de respeito. Se a gente orienta uma criança sobre autonomia e autoestima, dificilmente ela cairá na prática do bullying”, observa.
Para a pedagoga, esse assunto precisa ser abordado nesta fase de vida da criança não apenas com o intuito de prepará-la para enfrentar situações de bullying, mas porque já é possível aos pais observarem se o filho tem algum transtorno psiquiátrico a fim de que busquem tratamento adequado e evitem que ele cresça um adolescente traumatizado ou um possível praticante de atos violentos.
“É preciso controlar o uso da internet pelas crianças e adolescentes, que passam horas no mundo virtual e podem sofrer influências de pessoas mal-intencionadas. Se pudermos encher a criança e o adolescente de atividades, de leitura, de jogos, incentivar práticas ao ar livre onde possam tomar sol, seria o ideal, senão teremos crianças e adolescentes doentes”, acrescenta a professora da Estácio.
Dicas de livros
Segundo Carollini Graciani, a literatura oferece uma farta gama de títulos que abordam o bullying e que podem ser selecionados pelos professores e pelos pais e responsáveis. Podem ser livros didáticos ou mesmo de ficção, que irão fazer com que a criança se identifique. Confira na lista alguns títulos indicados pela pedagoga:
1. “Ernesto” – de Blandina Franco e José Carlos Lollo (Companhia das Letrinhas). Já imaginou se pudesse interferir no final triste de uma história e mudar o seu rumo? É isso o que sugere este livro.
2. “Todos zoam todos” – de Dipacho (Pulo do Gato). O livro ironiza o assédio ao falar sobre pluralidade social, construção de identidade e afirmação das diferenças.
3. “Flicts” – de Ziraldo (Melhoramentos). Conta a história de uma cor que não encontra o seu lugar no arco-íris por ser diferente de todas as outras.
4. “Bruno e João” – de Jean-Claude Ramos Alphen (Jujuba). Conta a história de uma amizade que se sustenta pelo desejo de proteção de quem se gosta.
5. “Monstro Rosa” – Olga de Diós (Boitatá). Traz para o universo infantil discussões sobre questões engajadas, como desigualdade e preconceito
6. “O pássaro amarelo” – de Olga de Diós (Boitatá). O personagem principal é um pequeno pássaro que tem uma asa mais curta do que a outra e por conta de sua deficiência não consegue voar.
7. “A história de Julia e sua sombra de menino” – de Christian Bruel, Anne Galland e Anne Bozellec (Scipione). O livro trata de questões como respeito, preconceito e valorização das diferenças.
8. “Pedro e o menino valentão” – de Ruth Rocha. (Melhoramentos). A partir de uma narrativa simples, provoca pais e educadores a pensarem sobre os referenciais de comportamento e sociabilidade que passamos às crianças no ambiente familiar.
9. “A terra dos meninos pelados” – de Graciliano Ramos (Record). Conta a história de Raimundo, que tinha o olho direito preto, o esquerdo azul e a cabeça pelada.
10. “Este é o Lobo” – de Alexandre Rampazo (Dcl Difusão Cultural). A história traz em primeiro plano o personagem lobo, que todos conhecem como o vilão de Chapeuzinho Vermelho. Porém, nem sempre as coisas são o que aparentam ser. Propõe uma reflexão sobre tolerância e empatia.