O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a levantar dúvidas sobre o processo eleitoral. Em evento no sábado (25) no Rio de Janeiro, o ex-chefe do Planalto afirmou que “quem decidiu as eleições não foi o povo”. Ao longo da campanha presidencial de 2022, Bolsonaro fez ataques ao processo eleitoral e afirmou, sem prova, que as urnas poderiam ser fraudadas.
“Ninguém entende o que aconteceu em outubro do ano passado. Se eu sou o ex mais querido do Brasil, não sou ex por causa do povo. A grande maioria do povo está conosco. Isso que aconteceu, dispenso palavras. Vocês bem sabem quem interferiu e quem decidiu nas eleições. Repito, quem decidiu não foi o povo. O povo não foi respeitado. Mas vamos considerar o ano passado uma página virada”, afirmou Bolsonaro.
Os ataques de Bolsonaro ao processo eleitoral, baseado em mentiras e sem provas, fizeram com que ele se tornasse inelegível neste ano, após decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em junho. A corte julgou a reunião promovida pelo ex-presidente com embaixadores estrangeiros em julho de 2022. Na ocasião, ele tentou desacreditar o tribunal e as urnas.
Neste sábado, Bolsonaro participou do evento do PL Mulher no Riocentro, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. O eleitorado feminino foi um de seus pontos fracos durante a campanha, o que abriu margem para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganhasse a disputa.
“Vocês, mulheres, são a força e são o poder. Era aquilo que faltava pra nós prosseguirmos nessa missão”, disse Bolsonaro. “A dor é grande. Perder o jogo faz parte, mas como esse jogo foi jogado, dói no coração.”
Em discurso de pouco mais de oito minutos, Bolsonaro também fez uma indireta contra o STF (Supremo Tribunal Federal), que foi alvo de ataques ao longo de seu mandato no Planalto. Ele fez uma menção a PEC aprovada pelo Senado que limita as decisões individuais na Corte.
“Os fatos dessa semana, ocorridos entre dois poderes em Brasília, bem demonstram o quão podre é este sistema, por quanto tempo esse sistema dominou o nosso Brasil”, disse Bolsonaro.
“Eu quero dizer a vocês que pesem as feridas, os ataques, as perseguições, aquilo que realmente nós não merecemos, mas isso tudo serve de vacina para nós garantirmos o futuro dessa garotada”.
O evento deste sábado teve como destaque a mulher de Bolsonaro, Michelle Bolsonaro. O ex-presidente só participou dos minutos finais da cerimônia. Antes, estava tomando café na Praça do Ó, em outro ponto da Barra da Tijuca.
Ele estava acompanhado de seu ex-companheiro de chapa, do general Walter Braga Netto (PL), do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), e do deputado federal e ex-chefe da PF Alexandre Ramagem –este último, confirmado pelo ex-presidente como pré-candidato à prefeitura da capital fluminense.
Os filhos de Bolsonaro, o senador Flávio (PL) e o vereador Carlos (PSC), estavam com o pai no café, mas não o acompanharam no evento do PL Mulher.
A estimativa de público foi de 5.000 pessoas, segundo os organizadores, em espaço com lotação máxima de 9.000. Ao longo do evento, porém, as pessoas foram se dispersando e indo embora. No momento em que Bolsonaro subiu no palco, havia buracos na arquibancada do anfiteatro do Riocentro.
No evento, Michelle fez um discurso político, já se colocando com um nome disponível para 2026. Embora ainda falte três anos para as próximas eleições federais, a ex-primeira dama já desponta como uma das apostas do PL para o pleito. Uma das possibilidades é de ela se lançar ao Senado.
“A mulher é delicada. A mulher é amável. A mulher tem um olhar especial para a política”, disse Michelle em um discurso que defendeu que só a mulher saberia fazer políticas voltadas ao eleitorado feminino “porque nós passamos isso no dia a dia, nós sentimos isso na pele”.
Desde março, quando assumiu a presidência do PL Mulher, Michelle tem participado de caravanas pelo país. Os eventos são marcados por falas religiosas cristãs e pela exaltação a Bolsonaro.
“Só estamos aqui porque ‘Bolsochelle’ nos ensina cada dia a sermos mais patriotas”, disse a ex-primeira dama assim que chegou ao evento de hoje, fazendo uma junção de seu nome com o do marido.
“Eu sou a pessoa mais perseguida no Brasil, mas eu estou firme, porque eu sei quem eu sou em Cristo, eu sei o meu chamado, eu sei o meu amor”.
Michelle é alvo de duas investigações da Polícia Federal: uma sobre supostos desvios de presentes de alto valor oferecidos por autoridades estrangeiras a Bolsonaro, conhecido como caso das joias; e outra sobre suposta fraude em sistema de vacinação.
Fonte: FolhaPress.