O Programa “Criança Feliz”, implantado em Campo Grande em 2017, se tornou uma referência nacional pela metodologia aplicada pelos visitadores, capacitados pela Prefeitura de Campo Grande, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS). O trabalho desses profissionais contribui para o desenvolvimento integral de crianças de zero a seis anos e mostra, às famílias assistidas semanalmente, a importância de valorizar a Primeira Infância.
Mas o sucesso do programa na Capital é explicado não apenas pelo preparo técnico das visitadoras e da equipe que atua na coordenação das atividades. O amor, dedicação e carinho presentes em cada visita domiciliar, em cada material pedagógico confeccionado e na atenção ao ouvir as necessidades de cada família, é o que realmente faz a diferença na realização do Programa.
Com o objetivo de trabalhar e jogar luz sobre o tema, o mês de agosto se transformou em referência para a conscientização sobre a importância da atenção integral às gestantes e às crianças de até seis anos de idade, sensibilizando e envolvendo a sociedade sobre a importância de investir na Primeira Infância.
Por isso, a Semana do Bebê, que termina nesta sexta-feira (11), foi dedicada à realização de atividades especiais, que promovem o fortalecimento de vínculos e oportunizam momentos de troca de experiências e aprendizado com a equipe do Programa e entre as gestantes e famílias atendidas.
Um dos momentos aconteceu no Parque Ayrton Senna, onde foi realizado um evento com as famílias em parceria com a USF Santa Emília, que ofereceu uma palestra sobre planejamento familiar e a equipe da Gerência de Trabalho e Ações de Cidadania (GTAC), que levou sugestões e ensinou os participantes a produzirem brinquedos com materiais recicláveis, semelhantes aos utilizados pelas visitadoras.
“A Semana do Bebê foi um grande avanço para abordarmos o tema da primeira infância e tivemos grandes resultados com nossas visitas, inclusive com famílias que muitas vezes somente a mãe participava das atividades. Tivemos, em alguns casos, o pai se interessando em ficar presente nesse momento”, pontuou Viviane Hoffmeister, coordenadora do Núcleo da Primeira Infância no SUAS.
União familiar
As atividades diferenciadas do mês também estão sendo levadas para as visitas domiciliares, sempre com o propósito de reunir a família, já que o foco, além de promover o fortalecimento de vínculos, é estimular os pais a estarem presentes e desenvolverem as atividades de estímulos com todos os filhos na faixa etária de zero a seis anos.
Mãe de seis filhos, com idades entre 20 anos e dez meses, a dona de casa, Sara Sanchez, da etnia kaiowá, veio de Dourados há dois anos e há pelo menos um ano recebe as visitadoras em sua casa, no bairro Santa Emília. Esta semana, a equipe elaborou uma árvore genealógica desenhada em uma folha para que todos os integrantes da família preenchessem com suas digitais utilizando tinta guache.
O colorido das tintas foi o suficiente para despertar a atenção do pequeno Paulinho, o caçula da família, que logo quis sentar no chão com as irmãs e participar da atividade. Com a música “O Caderno”, clássico do compositor Toquinho, como fundo musical para ajudar na concentração, os irmãos se divertiram, estimulados pelas visitadoras Daniele Flores de Souza Aspet e Luma Balbina dos Santos. Durante os 20 minutos da atividade, elas orientam, apresentam ideias e dicas aos responsáveis pelas crianças sobre como estimular o desenvolvimento nesta faixa etária.
Mais que isso, em muitos momentos elas são conselheiras, ouvem as gestantes sobre suas necessidades, acompanham a evolução da gravidez e cuidam para que a família tenha assistência de toda a rede de atendimento da gestão, com atenção especial à Educação e Saúde das crianças.
“É uma satisfação muito grande contribuir com o desenvolvimento dessas crianças, também criamos um vínculo com elas, de amor e afetividade”, ressaltou Luma.
Para Sara Sanchez, mãe de Paulinho, as visitas estão ajudando o bebê a entender mais rápido o mundo à sua volta. “Aprendi a interagir melhor com as crianças e repetimos as atividades durante a semana. Elas também me ajudaram a lembrar de alguns cuidados que a gente precisa ter com um bebê porque fazia tempo que não tinha outro filho. Lá na aldeia não tinha essa ajuda”, contou.
Já na casa de Augusto, de dois anos, a dificuldade da dona de casa Sara Chaeny é controlar o ciúme do filho em relação à irmãzinha Isis, de apenas 14 dias. A família mora no Bairro São Conrado e a atividade aplicada também foi a árvore genealógica, mas a sensibilidade da equipe em perceber que o menino precisava de uma atenção especial, motivou as entrevistadoras a produzirem uma pipa com material reciclado e presentear Augusto, que percebeu, no gesto simples, que também ocupa um lugar especial na família, pois foi o único a ganhar o presente.
“Ele é muito agitado, mas as visitas delas estão sendo ótimas porque percebi que ele só precisa de mais atenção, então sempre que posso, paro o que estou fazendo para brincar, fazer as atividades”, frisou a mãe.
Da casa de Augusto, a dupla de entrevistadoras retornou ao Santa Emília para ver como está o desenvolvimento dos seis netos de dona Nolma de Jesus Serem. Logo no portão estava Gabriel, de dois anos, que recebeu as entrevistadoras com sorrisos e abraços. “Ele é muito apegado a elas, quando elas vão embora, ele até chora”, revelou a avó. O foco das técnicas está em ajudar na comunicação oral de Gabriel, que tem dificuldade na fala.
“É difícil cuidar de todos sozinha, mas eu sei que é importante as atividades porque está ajudando meu neto. Todos os irmãos participam”, afirmou dona Nolma. Enquanto pintava a folha com tinta guache, a entrevistadora Daniele ajudava o pequeno a pronunciar o nome das cores.
“Para nós é muito emocionante ver a evolução de uma criança porque também temos filhos, por isso acaba sendo uma troca de experiências. Levamos informação, mas ganhamos muito em troca também”, destacou.
Dados
De janeiro a junho de 2023 o Programa Criança Feliz atendeu 1.325 famílias, totalizando 24.993 visitas realizadas. O Programa também é desenvolvido com as crianças abrigadas nas Unidades de Acolhimento Institucionais de Campo Grande, ampliando o acesso às seguranças socioassistenciais afiançadas pela política pública da Assistência Social. Nesse caso, os cuidadores são os responsáveis por desenvolver um trabalho humanizado que já se tornou referência nacional, atraindo a atenção de representantes do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome.
No momento, a Rede de Assistência Social do município conta com oito equipes que englobam todos os 21 Cras. De janeiro de 2018 a junho de 2023, o município acompanhou 3.526 crianças de zero a três anos, 80 crianças de três a seis anos beneficiárias do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e 1.077 gestantes, totalizando 3.207 famílias acompanhadas e 190.010 visitas realizadas.