Por: Elaine Mateus
A demência é uma realidade crescente em nossa sociedade, representando não apenas um desafio médico, mas também um problema social e emocional de proporções globais. Enfrentar essa condição exige um esforço conjunto entre pesquisadores, profissionais de saúde e governos, visando não apenas compreender suas complexidades, mas também desenvolver intervenções eficazes para melhorar a qualidade de vida das pessoas que vivem com o diagnóstico e suas famílias. Felizmente, estamos testemunhando avanços significativos na pesquisa sobre demência, impulsionando a esperança de uma abordagem mais eficiente e compassiva para essa questão urgente.
No Brasil, ao menos 1,76 milhão de pessoas com mais de 60 anos vivem com alguma forma de demência. As investigações sobre esse conjunto de enfermidades, sem cura, têm se intensificado, abrangendo diversos campos da ciência, como neurologia, psicologia, genética e farmacologia. Uma das áreas de destaque é a neuroimagem, que possibilitou um entendimento mais profundo das mudanças estruturais e funcionais no cérebro de pacientes com demência. Técnicas como ressonância magnética funcional e PET scan revelaram padrões de atividade cerebral alterados, oferecendo pistas sobre os mecanismos subjacentes à condição.
Outrossim, as pesquisas sobre ciência dos genes têm lançado luz sobre as bases genéticas da demência, incluindo variantes associadas a um risco aumentado. Esses estudos são vitais para a identificação precoce e o desenvolvimento de terapias personalizadas. As terapias farmacológicas também estão avançando, com medicamentos em desenvolvimento visando proteínas associadas à demência, como beta-amiloide e tau. Embora ainda não tenhamos uma cura definitiva, esses avanços oferecem esperança de intervenções que possam retardar ou estabilizar a progressão da doença.
Além desses avanços promissores, a pesquisa em demência ainda enfrenta desafios significativos. A complexidade da doença e a variabilidade individual exigem abordagens multifacetadas e personalizadas. Além disso, os custos e a duração dos ensaios clínicos muitas vezes retardam a tradução de descobertas em tratamentos acessíveis. É essencial que haja um compromisso contínuo de financiamento e colaboração internacional para superar esses obstáculos.
O tratamento humanizado da demência é essencial para proporcionar dignidade e aliviar as famílias. A presença e apoio dos parentes são pilares fundamentais, oferecendo suporte emocional e prático, além de contribuir para a estabilidade emocional daqueles que têm o diagnóstico. Familiares que cuidam enfrentam desafios significativos e requerem suporte, destacando a importância de recursos, educação e serviços de respiro. Paralelamente, os governos desempenham um papel crucial ao implementar políticas de conscientização, investir em pesquisa e disponibilizar serviços de saúde acessíveis. O tratamento humanizado, centrado na família e com respaldo governamental, não só melhora a qualidade de vida das pessoas com demência, mas também fortalece a coesão social diante desses desafios.
A crescente população idosa torna a demência uma preocupação urgente. Cada avanço científico nos aproxima de um futuro mais solidário, onde a compreensão dos fatores de risco, como genética e estilo de vida, desempenha um papel crucial. Enfrentar a demência define nossa sociedade, nossa compaixão e nossa busca incessante pelo conhecimento.
A pesquisa sobre demência não é apenas uma busca científica; é uma responsabilidade moral e social. Aqueles afetados pela demência merecem qualidade de vida e dignidade. Investimentos governamentais em pesquisa, campanhas, programas de redução de risco e serviços de suporte pós-diagnóstico são essenciais para enfrentar esses desafios.
À medida que exploramos os fatores de risco, desvendando os segredos do cérebro e buscando intervenções mais eficazes, essa jornada exige comprometimento global, financiamento contínuo e determinação incansável para transformar a ciência em melhorias tangíveis. Reconhecer essa importância e agir nos coloca à altura do desafio que a demência apresenta.
*Elaine Mateus é presidente da Febraz.