O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu uma homenagem na noite desta sexta-feira (18) na Assembleia Legislativa de Goiás e afirmou correr perigo no país.
“Sei dos riscos que corro em solo brasileiro, mas não podemos ceder”, afirmou Bolsonaro, um dia após revelações de dois de seus antigos colaboradores complicarem sua situação em investigações da Polícia Federal e do STF (Supremo Tribunal Federal).
Bolsonaro esteve em Goiânia, onde chegou a visitar uma joalheria em meio às apurações sobre o esquema de joias recebidas pela Presidência sob sua gestão. À noite, recebeu o título de cidadão goiano na Assembleia Legislativa.
Em discurso na Casa Legislativa, o ex-presidente não fez citações diretas às apurações sobre as joias, mas atacou o governo Lula (PT) e afirmou que “estamos vivendo momentos difíceis”.
Antes de chegar a Goiânia, Bolsonaro afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que o tenente-coronel Mauro Cid tinha “autonomia” como seu ajudante de ordens na Presidência da República.
Ele comentou a apuração sobre a venda de joias do governo brasileiro e disse querer esclarecer o caso “o mais rápido possível”.
A PF investiga a venda de presentes dados a Bolsonaro em agendas oficiais. “Ele [Mauro Cid] tem autonomia. Não mandei ninguém vender nada. Não recebi nada”, afirmou ao jornal.
A declaração de Bolsonaro foi dada um dia após o advogado de Mauro Cid, Cezar Bitencourt, afirmar que o cliente faria uma confissão à PF e que a venda de joias ocorreu a mando de Bolsonaro.
Nesta sexta-feira, porém, Bitencourt recuou, disse à GloboNews que se referia apenas a um relógio da marca Rolex e que não se trataria de uma confissão, mas “esclarecimentos” a serem feitos aos investigadores.
Ao discursar na Assembleia de Goiás, Bolsonaro disse que a Reforma Tributária é “péssima” e esdrúxula e que “se o PT está indicando sim, vote não”.
O ex-presidente, que foi declarado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em razão de mentiras e ataques às urnas eletrônicas em reunião com embaixadores em 2022, tratou também do cenário para 2026.
“Temos que trabalhar para que, em 2026, possamos ter um candidato bastante competitivo. Quem será o candidato? O tempo dirá”, disse Bolsonaro, acrescentando que “nenhuma pessoa é salvador da pátria”.
“Se me enterrarem um dia, essas sementes serão bastante competitivas por ocasião do futuro político da nossa pátria”, completou.
Ao chegar ao plenário da Assembleia, Bolsonaro foi aplaudido por apoiadores, que o chamaram de “mito” e fizeram coro com xingamentos a veículos de comunicação.
O ex-presidente, que no estado teve mais votos que Lula nas últimas eleições presidenciais, estava acompanhado do governador Ronaldo Caiado (União Brasil) e do presidente do PL em Goiás, o ex-deputado federal Major Vitor Hugo.
Mais cedo, ao visitar uma joalheria em Goiânia, Bolsonaro ganhou um pingente e brincou dizendo que na última vez que recebeu um presente do tipo “deu o maior problema”, conforme relato do jornal O Popular. A dona da loja, que o presenteou, disse que a peça era uma semijoia.
O ex-presidente desconversou ao ser questionado sobre a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), que determinou na quinta-feira (17) a quebra dos sigilos bancário e fiscal dele e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. “Os sigilos já estavam quebrados”, disse.
No dia anterior, Bolsonaro foi acuado por revelações de Cid e do programador Walter Delgatti Neto, conhecido como hacker da Vaza Jato, chamado por bolsonaristas na campanha eleitoral para atuar na cruzada contra as urnas eletrônicas.
Tanto Cid como Delgatti estão presos -o primeiro sob suspeita de adulterar o seu cartão de vacinação, o de Bolsonaro, o de sua esposa, Gabriela Cid, e de uma de suas filhas; e o segundo por uma trama para prejudicar Moraes.
No caso do hacker, ele prestou depoimento à CPI do 8 de janeiro e disse que a campanha do ex-presidente planejou forjar a invasão de uma urna eletrônica durante as celebrações do 7 de Setembro de 2022, menos de um mês antes da eleição.
O hacker disse ainda que, em outra data, Bolsonaro teria pedido para ele assumir a autoria de um grampo de conversas de Moraes.
No caso de Cid, o revés a Bolsonaro veio por meio da defesa do militar.
Nesta sexta, Paulo Amador da Cunha Bueno, um dos defensores do ex-presidente, afirmou à Globonews: “O presidente Bolsonaro nunca recebeu valor em espécie do tenente-coronel Mauro Cid referente à venda de nada”.
Bueno argumentou que o ex-ajudante de ordens tinha autonomia para exercer o cargo e resolver demandas sozinho, e disse que Bolsonaro, se quisesse, poderia vender os itens por ele recebidos, apesar do acórdão do TCU (Tribunal de Contas da União) que regula o tratamento destes bens.
“Quando um chefe de Estado, o presidente da República brasileiro recebe um presente, esse presente é diretamente direcionado ao Gabinete Adjunto de Documentação Histórica, […] onde ele recebe esse tratamento, que é um tratamento binário: ou ele ingressa pro acervo público, e aí ele permanece no Palácio do Planalto, ou ele ingressa no acervo privado de interesse público, e aí ele vai para o titular do Executivo.”
Fonte: FolhaPress.