Quem vive em Mato Grosso do Sul sabe que o Estado e o vizinho Paraguai têm uma história longa de vivências, fruto da fronteira que dividem. Há décadas, muitos paraguaios que vieram para cá em busca de oportunidades e qualidade de vida trouxeram costumes hoje enraizados entre os sul-mato-grossenses. Aqui, a comida e a música tradicional paraguaia caíram no gosto da população, que não dispensa uma boa chipa, a sopa paraguaia, o tereré, além de ritmos como a guarânia e a polca paraguaia.
A importância cultural destes dois ritmos foi reconhecida no plenário da Assembleia Legislativa e a lei de autoria do deputado estadual João Henrique, que cria o Dia Estadual da Guarânia e da Polca Paraguaia, a ser comemorado em 15 de maio – segunda data da Independência do Paraguai (a outra é 14 de maio), foi sancionada pelo governador.
“A polca paraguaia e a guarânia são ritmos musicais trazidos pelos irmãos paraguaios e que se entrelaçaram com a nossa cultura, inclusive pela proximidade com a fronteira. O projeto contribui para o fortalecimento das tradições paraguaias no Estado, que conta com a maior colônia em território brasileiro, fortalecendo as tradições”, diz o deputado.
A polca paraguaia é um gênero musical que desde o século 19 já estava presente no Paraguai. Primeiro em forma de dança, depois em forma de canção. A guarânia surgiu na primeira década do século 20, em Assunção, como um gênero de música paraguaia urbana.
Em Campo Grande, na tradicional casa paraguaia Associação Colônia Paraguaia, os ritmos são os que embalam as festas rotineiramente ali realizadas e a aprovação deste projeto será motivo para mais uma, segundo seu presidente, o advogado e paraguaio Albino Romero. “Esta é uma lacuna que precisava ser preenchida, e a percepção e o bom coração do deputado fizeram acontecer. Faltava este reconhecimento, engrandecer a nossa cultura, a nossa música tradicional tão importante para o povo paraguaio e para o sul-mato-grossense também, que aprendeu a gostar e dançar a guarânia e a polca paraguaia”.
Para o professor Evandro Higa, do Curso de Música da UFMS e autor do livro “Para fazer chorar as pedras”, sobre estes ritmos paraguaios, a iniciativa de criar o Dia Estadual da Guarânia e da Polca Paraguaia busca trazer mais visibilidade a uma das mais importantes características culturais de Mato Grosso do Sul: a conexão com a história e a cultura do Paraguai. “É inegável que Mato Grosso do Sul compartilha uma história comum com esse país vizinho, assim como não há como ignorar o quanto nos identificamos com sua culinária, costumes e, principalmente, sua música. Além disso, é preciso lembrar que grande parte dos municípios sul-mato-grossenses foram criados graças à mão de obra paraguaia, especialmente na extração e beneficiamento da erva-mate, bem como nos trabalhos relacionados à criação de gado. A trilha musical disso tudo sempre foi a música paraguaia, que animava os bailes, consolava os corações partidos e trazia significação aos violentos processos de desterritorialização sofrido pelos imigrantes e seus descendentes em solo brasileiro. Destacar a polca paraguaia e a guarânia é uma forma de valorizar uma cultura e uma história primordial para Mato Grosso do Sul, contribuindo para que não essa memória não seja esquecida”.
A pesquisadora e escritora de MS Marley Sigrist diz que os dois ritmos paraguaios são relevantes para a cultura regional porque estão entranhados no cotidiano musical de Mato Grosso do Sul, tendo sido assimilados e consumidos tanto pelo público quanto pelos compositores regionais. “São ritmos da cultura popular tradicional, que podemos indicar como Patrimônio Imaterial de MS, pois já fazem parte da vida das pessoas aqui do Estado, em que sua transmissão oral se efetivou de uma geração a outra”.
O projeto de lei aprovado segue para sanção do governador.
Assessoria.