O Senado elegeu neste sábado, 1.º, Davi Alcolumbre (União-AP) presidente da Casa pelos próximos dois anos. Com 73 votos, o parlamentar do Amapá volta ao cargo que ocupou entre 2019 e 2021. Alcolumbre sucede a Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de quem é padrinho político.
Favorito durante todo o processo, o senador do União Brasil derrotou Eduardo Girão (Novo-CE) e Marcos Pontes (PL-SP). Ambos tiveram quatro votos, cada. Marcos do Val (Podemos-ES) e Soraya Thronicke (Podemos-MS) também registraram suas candidaturas, mas retiraram seus nomes da disputa durante o discurso em plenário.
A votação recebida por Alcolumbre foi a segunda maior da história da Casa. José Sarney, em 2003, e Mauro Benevides, em 1991, tiveram 76 apoios do plenário. A votação foi encerra às 15h02 e o resultado final foi oficialmente proclamado às 15h20.
No discurso após a vitória, Alcolumbre afirmou que Congresso deve ser “porta-voz” do sentimento dos brasileiros. Para Alcolumbre, o objetivo dos parlamentares em facilitar a vida do cidadão exigirá por vezes um posicionamento corajoso perante o governo, o Judiciário, a mídia ou o mercado. “Nem sempre agradaremos a todos.”
“É importante que seja dito: este Senado Federal, este Congresso Nacional, não vai se omitir nem vacilar para tomar as decisões que melhorem a vida das pessoas. Antes de cada enfrentamento, cada votação sensível, uma pergunta deverá ecoar em nossas mentes: esse projeto ajuda ou atrapalha o povo?”, disse.
Na primeira vez que foi eleito presidente do Senado, seis anos atrás, ele recebeu 42 votos. Segundo o senador, a maioria conquistada agora foi fruto de uma unidade política de partidos que pensam diferente. “E isso representa claramente o amplo respaldo político que esse plenário está conferindo ao projeto político que nós construímos juntos”, afirmou Alcolumbre aos colegas.
“Muito, muito obrigada. Minhas primeiras palavras não poderiam ser outras, a cada senador, senadora, pela confiança novamente em mim depositada”, disse o senador, argumentando ainda que não está em busca de protagonismo, tendo o objetivo de ser um “catalisador do desejo do plenário”.
Ele ainda afirmou que o Senado será uma Casa de “iguais”, onde cada senador terá voz e espaço independentemente da sua ideologia ou orientação política.
No discurso que precedeu a votação, Alcolumbre citou a “controvérsia envolvendo as emendas parlamentares” como um desafio a ser enfrentado pelo Congresso e mandou um recado ao Supremo Tribunal Federal (STF) dizendo que as prerrogativas do Legislativo devem ser respeitadas.
Ele também reiterou um “compromisso inafastável” com a democracia e disse que é preciso “resistir aos atalhos populistas”, evitar “os rótulos de discursos fáceis” e as “distorções de debates nas redes sociais” feitas por meio de “simplificações mal intencionadas”.
Mesmo longe da presidência nos últimos quatro anos, Alcolumbre manteve sua influência na Casa com o comando da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e aglutinou apoio desde o PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, até o PL, sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro, para sua candidatura.
Ao todo, MDB, PSD, PL, União Brasil, PT, PP, PDT, PSB e Republicanos, quase todas as legendas com representação na Casa, apoiaram a eleição de Alcolumbre.
Essa ampla frente formada terá como principal resultado o retorno do PL a cargos de destaque na Casa Alta do Congresso e a redistribuição das principais comissões. O partido de Jair Bolsonaro conseguiu a primeira vice-presidência, posto estratégico que foi ocupado pelo MDB ao longo dos quatro anos de mandato de Rodrigo Pacheco. Eduardo Gomes (PL-TO) foi o escolhido.
O PT, por sua vez, deve ficar com a segunda vice, cargo menos importante que a primeira secretaria que o partido tem até o momento. O ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PE) é o escolhido dos petistas para a vaga.
A próxima etapa da eleição foi a votação para os outros cargos da Mesa Diretora. A distribuição ficou assim:
Primeira Secretaria: Daniella Ribeiro (PSD-PB);
Segunda Secretaria: Confúcio Moura (MDB-RO);
Terceira Secretaria: Ana Paula Lobato (PDT-MA);
Quarta Secretaria: Laércio Oliveira (PP-SE).
O cenário de vitória de Alcolumbre retomou uma tradição de eleições tranquilas, com uma ampla margem a favor do vencedor. Em 2023, quando Rodrigo Pacheco foi reeleito, o placar foi de 49 votos a 32 a favor do senador mineiro contra Rogério Marinho (PL-RN). Quando foi eleito pela primeira vez, em 2019, Alcolumbre venceu por 42 votos a 13. Em 2015, Renan Calheiros (PMDB) derrotou Luiz Henrique (PMDB) por 49 votos a 31, e em 2009, José Sarney (PMDB) venceu Tião Viana (PT) por 49 votos a 32.
O próprio Sarney protagonizou uma das vitórias mais amplas – 70 votos a 8 contra Randolfe Rodrigues, então integrante do PSOL. Renan também teve uma goleada na sua conta: venceu por 72 votos a quatro em 2005 – mas naquele ano, ele foi candidato único, e os quatro votos foram computados apenas como contrários.
Trânsito com a esquerda e com a direita
Alcolumbre tem bom trânsito com a direita e com a esquerda e, nos últimos anos, durante a gestão de Pacheco, seu aliado, na presidência do Senado, foi responsável por boa parte das negociações envolvendo emendas parlamentares e cargos.
São atribuídas a ele, por exemplo, indicações nos ministérios do presidente Luiz Inácio Lula da Silva das Comunicações, com Juscelino Filho, e da Integração Nacional, com Waldez Góes.
Senador de segundo mandato – foi eleito pela primeira vez em 2014 –, Alcolumbre, de 47 anos, está na política em cargos públicos desde 2001, quando tomou posse como vereador de Macapá. À época, tinha 23 anos e era filiado ao PDT. Em 2002, foi eleito deputado federal pelo mesmo partido. Trocou de sigla em 2006, quando migrou para o PFL, que mudou de nome para DEM em 2007 e depois se fundiu com o PSL para formar o União Brasil, legenda à qual está filiado até hoje.
O senador amapaense é muito cordial com seus pares e conquistou nos últimos anos o espaço de protagonista nas negociações da Casa Alta do Congresso com quem quer que esteja no Palácio do Planalto. No governo de Jair Bolsonaro, estabeleceu uma aproximação da Casa com o então presidente.
Desde que deixou a presidência do Senado, em 2021, o senador amapaense manteve-se em uma posição de destaque na Casa. Foi presidente de um dos mais importantes colegiados, a Comissão de Constituição e Justiça por quatro anos. Esta foi uma forma de Alcolumbre cumprir o que ele chamou, em conversas com amigos, de um “ciclo”.
Como mostrou a Coluna do Estadão, o parlamentar tem sido classificado por petistas como o “novo Lira”, em referência à difícil e volátil relação que o deputado Arthur Lira (PP-AL), na presidência Câmara, teve nos últimos dois anos com o governo.
Fonte: Estadão Conteúdo.