Gelo se quebrando, pássaros cantando, cachorros latindo ou mesmo um vento horripilante. Os elementos acima podem levar o nosso imaginário para o universo do cinema, mas, na verdade, estamos falando de música e das mais clássicas. É a obra “Quatro Estações” do consagrado artista da era barroca, Antonio Vivaldi que o projeto “Circulação de Concertos Francis David Vidal Ensemble” buscou não só a maestria de tocar como a generosidade de descortinar aos olhos do público detalhes que para quem não está familiarizado com a música de concerto, nem sempre consegue captar.
Rodando de norte a sul do Estado, só na última semana o projeto se apresentou em três cidades: Miranda, na sexta-feira (5), Campo Grande, no sábado (6) e Paranaíba, no domingo (7). Em todas elas os músicos não só emocionaram o público como descortinam signos escondidos por detrás de toda a obra. Isso porque ao final de cada estação, ou melhor, música que leva o nome de Primavera, Verão, Outono e Inverno, o maestro Francis Vidal apresentava curiosidades por trás de cada composição.
Uma escolha que foi feita pelo maestro de forma proposital, conforme ele mesmo explica. “Essa obra está no subconsciente das pessoas seja por já terem ouvido trechos em filmes ou comerciais de TV. Como o objetivo maior do projeto é trabalhar a formação de público para a música clássica, nada melhor do que partir para algo que a vida já lhes apresentou um dia, mesmo que de forma passageira e mostrando as riquezas dos detalhes, pois cada música traz uma estação e nela há sons característicos que Vivaldi buscou reproduzir pelos instrumentos”, avalia ele, que tem visto e ouvido resultados da plateia. “Tem superado as minhas expectativas pela interação do público e a quantidade de pessoas em diversas cidades que passamos”.
Paranaíba mesmo é uma cidade que deixou nítida a afirmativa do maestro. É que só pela Praça Espelho D’Água calcula-se um público de mais de mil pessoas que compareceram ao concerto a céu aberto, conforme dados da produção do projeto. Número que, talvez, tenha sido o maior até agora do trabalho que tem lotado suas apresentações e, em algumas cidades, promovido segundas sessões por conta disso.
“Brinco que a gente se sentiu como uns Pops Stars porque foram muitas trocas com o público, fotos, carinho e quem não conseguiu falar com a gente deixou mensagem em nossas redes sociais”, revela Francis que vê nessas atitudes a demanda existente entre a população do interior do MS. “Todas essas reações apontam que há uma demanda reprimida de pessoas que querem ter acesso a música clássica. Após o final do projeto, a ideia é pensar em novos fomentos, editais, parcerias que viabilizem a gente a percorrer o Estado”.
Ideia que as irmãs, aposentadas, Maria Luíza e Lorivana Barbosa, passaram a apoiar assim que assistiram ao concerto na aldeia Marçal de Souza promovido, em Campo Grande, no último sábado (6) . “É maravilhoso demais. Você vê gente de todas as idades e eu ainda tive a grata felicidade de conhecer esse espaço que eu não conhecia que é o Memorial da Cultura Indígena”, afirmou Lorivana.
“É algo que precisa ser promovido mais vezes. Amo cultura, música e arte como um todo e ter esse momento de conversa com os músicos ajuda a gente a entender pormenores da obra que para quem é leigo, certamente, passaria batido” comenta Maria Luíza.
Para quem ficou sabendo da passagem da camerata pela Capital como o maestro Eduardo Martinelli, não há sombra de dúvida que o endereço para sediar o concerto era o Centro Cultural. “Assim que a gente ficou sabendo já houve uma troca com a Maria Auxiliadora, responsável pela gerência do local e fomos falar com os órgãos municipais responsáveis”, lembra ele que aproveitou para reunir as crianças que são alunas dele no projeto de música na outra aldeia indígena da cidade, a comunidade Darcy Ribeiro. “Trouxemos nossos alunos porque a melhor forma de aprender é estudar, tocar e, claro, ouvir bons repertórios”.
Como foi o caso da aluna Tayara Cruz, de 14 anos de idade, que não desgrudou os olhos da camerata. “Incrível, acho que essa é a palavra que melhor traduz tudo o que vi e ouvi. Toco violino há oito anos e ver a habilidade desses artistas me impressionou muito porque são músicas muito difíceis de executar. Daí, eu me peguei reparando muito na técnica”.
Agora, os 13 músicos do projeto dão uma pausa para no dia 13 (sábado) finalizar a turnê estadual em Aparecida do Taboado, às 19h30, na Biblioteca Municipal Washington Rodrigues de Melo/ Sala de Cultura Eleonora Camargo de Queiroz – Av. Presidente Vargas, n.º 4.363
O projeto “Francis David Vidal Ensemble” foi contemplado pelo FIC (Fundo de Investimentos Culturais), promovido pela FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), por meio da Setescc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania), do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul. Informações pelo Instagram @francisdavid1
A camerata é formada pelo maestro e diretor artístico Francis Vidal; Caio Xavier de Almeida (contrabaixista); Carlos Eduardo de Assis, Eliana Mangano, Elias Soares, Gabriel Almeida, Luis Henrique de Macedo e Rene Neves Filho (violinistas); Irliane Karoline Pessoa e Thiago Miotto (violistas); Mara Denise Vidal e Vivian Kinars (violoncelistas); Wellington de Lamare (cravista).