Você finalmente encontra alguém com quem sente uma conexão verdadeira. A sintonia é boa, os sentimentos são recíprocos, tudo parece promissor — mas, de repente, você começa a agir de forma estranha. Criar conflitos desnecessários, questionar sentimentos, se distanciar ou exigir mais do que o outro pode dar. A pergunta que ecoa é: por que fazemos isso justo quando tudo parecia dar certo? A resposta está em um fenômeno muito comum e silencioso: a autossabotagem.
A autossabotagem nos relacionamentos é uma armadilha emocional que, muitas vezes, se instala sem que a pessoa perceba. Ela pode se manifestar em forma de ciúmes excessivo, controle, insegurança, desconfiança, comparações, medo de se entregar ou mesmo afastamento súbito. E, paradoxalmente, isso acontece principalmente quando o relacionamento tem tudo para dar certo. Mas por quê?
Medo de não ser suficiente
Uma das raízes mais profundas da autossabotagem é o sentimento de inadequação. Quando encontramos alguém que nos valoriza e ama de verdade, muitos de nós, em vez de acolher esse afeto, começamos a nos questionar: será que sou bom o suficiente?, quando essa pessoa vai perceber que não sou tudo isso? Esse tipo de pensamento cria uma tensão interna que leva ao comportamento sabotador — como se, inconscientemente, preferirmos terminar logo com aquilo que tem potencial de dar certo antes que sejamos deixados para trás.
Traumas do passado não resolvidos
Históricos de abandono, traição, rejeição ou relacionamentos conturbados deixam marcas que influenciam diretamente como nos relacionamos no presente. Quando um novo relacionamento aparece, especialmente se ele é promissor, o medo de reviver velhas dores pode ser tão grande que a pessoa decide, sem perceber, se proteger atacando antes de ser atacada. É como se ela dissesse: prefiro destruir isso antes que me destrua de novo.
Baixa autoestima e crença limitante
Pessoas com baixa autoestima muitas vezes acreditam que não merecem ser amadas ou felizes. Essa crença é extremamente limitante e faz com que, mesmo diante de uma relação saudável, a pessoa tenha dificuldade de aceitar o amor do outro. O cérebro busca confirmar a ideia de que “ninguém fica por muito tempo”, e inconscientemente cria situações que reforçam esse padrão. A autossabotagem, nesse caso, é uma tentativa de manter o mundo “seguro” e previsível — mesmo que isso signifique destruir oportunidades reais de amor.
Medo da vulnerabilidade
Amar alguém de verdade exige entrega, confiança e vulnerabilidade. E isso assusta. Muitos associam a vulnerabilidade à fraqueza, quando na verdade ela é um dos pilares mais poderosos da conexão emocional. Ao se abrir, você corre o risco de se machucar — mas também se permite viver algo genuíno. Quem tem medo de se expor pode acabar sabotando a relação como forma de evitar essa exposição emocional. É o famoso “melhor não me envolver para não me machucar”, que acaba se tornando uma profecia autorrealizável.
Expectativas irreais e perfeccionismo
Outro fator que leva à autossabotagem é a expectativa idealizada do que deve ser um relacionamento. Quando o outro não corresponde exatamente às fantasias criadas, surge a frustração. Pessoas perfeccionistas tendem a exigir de si e dos outros uma performance emocional inatingível. Isso gera constantes decepções, crises e rompimentos que poderiam ser evitados. Sabotar, nesse contexto, é uma forma inconsciente de buscar algo que, no fundo, nem existe.
O que fazer para quebrar esse ciclo?
O primeiro passo é reconhecer os próprios padrões. Se você percebe que costuma se afastar quando as coisas estão indo bem, ou que sempre encontra um “defeito” no outro quando a relação se aprofunda, vale a pena investigar o que está por trás dessas atitudes.
A terapia é uma aliada poderosa nesse processo. Ela ajuda a identificar as origens do comportamento sabotador, ressignificar traumas e fortalecer a autoestima. Praticar a auto responsabilidade, aprender a se comunicar com clareza e desenvolver a paciência consigo mesmo e com o outro também são atitudes fundamentais.
Estar em um relacionamento saudável exige coragem. Coragem para se mostrar como é, para aceitar o amor que recebe e para lidar com os desafios que surgem. Amar é, sim, um risco — mas também é uma das experiências mais enriquecedoras da vida. splove
No fim, a pergunta que fica não é por que nos sabotamos, mas até quando vamos continuar nos sabotando? Às vezes, o maior obstáculo para viver um grande amor não é o outro — somos nós mesmos.
Fonte: Izabelly Mendes.