Por: André Ito
Há muitas vantagens em ter um agronegócio forte. A principal delas, claro, é que ninguém vive sem se alimentar. Assim, ser autossuficiente na produção de alimentos tem um valor incalculável. Mas há outros aspectos tão importantes quanto. Entre eles o impacto que o agro tem na economia. Produzir comida hoje em dia não é como na antiguidade, em que se plantava a semente, regava, colhia e vendia in natura para as pessoas comerem. O agro é um setor gigante que envolve a participação de diversos segmentos industriais.
Um desses é o de produção de fertilizantes. O Brasil já chegou perto da autossuficiência neste insumo, mas a partir de 1992 a situação se inverteu e o país começou a importar cada vez mais. Um estudo realizado ainda no governo anterior mostra que o Brasil compra do exterior 80% dos fertilizantes de que necessita. Essa dependência é muito perigosa por duas razões.
Primeiro porque o agro é o setor que mais contribui com a balança comercial brasileira. Quando começou a guerra na Ucrânia houve grande preocupação porque boa parte dos fertilizantes eram e ainda são comprados da Rússia. O presidente em exercício na época até viajou para lá para conversar, entre outros assuntos, sobre garantias de que o comércio deste importante insumo não seria prejudicado.
A segunda razão está relacionada à própria segurança alimentar dos brasileiros. Para atender a demanda interna, o país precisa muito dos fertilizantes minerais. São eles que possibilitam essa produção em ritmo industrial. Não é por acaso que em dezembro de 2023 a Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 3507/21, que cria um programa para estimular a produção nacional de fertilizantes baseado em incentivos fiscais.
Esse programa, chamado Profert (Programa de Desenvolvimento da Indústria de Fertilizantes), e que já havia sido aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, vai beneficiar empresas com projetos para implantação, ampliação ou modernização de unidades para produção de fertilizantes e de insumos. Essa iniciativa deve impulsionar bastante o mercado de Fiagros, que são fundos de investimento em cadeias agroindustriais. Ou seja, eles atendem uma gama ampla de empreendimentos, não só a agricultura e pecuária em si, mas toda a indústria em seu entorno.
As novas fábricas de fertilizantes a serem construídas e mesmo a ampliação das já existentes vão necessitar de financiamento. Certamente o governo, por meio do BNDES e bancos públicos, não tem bala na agulha para atender a todas as solicitações. O mercado tradicional, formado pelos bancos privados, também não. Uma parte dos projetos para a construção e ampliação de novas plantas pode não conseguir recursos.
A não ser que o mercado de capitais entre em ação. E aí o Fiagro surge como ferramenta para auxiliar o Brasil a atingir o objetivo de se tornar autossuficiente – e até mesmo exportador – de fertilizantes. O curioso de tudo isso, é que o Brasil conta com enormes reservas de todos os minerais usados na produção destes insumos, não precisaria importar se tivesse uma política agrícola mais sustentável.
A matéria será analisada ainda pelas comissões de Finanças e Tributação (CFT) e pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Mas a expectativa é de que o projeto seja aprovado nessas comissões também e sancionado pelo atual presidente. A partir daí, uma nova porta de oportunidades vai se abrir para os gestores de Fiagros, seus investidores e, principalmente para o agronegócio nacional que produzirá com ainda mais segurança e sem riscos causados por guerras, mudanças políticas ou simplesmente oscilações do dólar.
*André Ito é CEO da MAV Capital