Acessar serviços ou realizar compras online pode poupar tempo do consumidor, além de facilitar até na hora de comparar preços. Mas esse é o momento de reforçar os cuidados com golpes e fraudes no ambiente digital. Isso começa com a atenção na hora de compartilhar seus dados pessoais com sites e aplicativos. É necessário cuidar da sua identidade digital. Mas você sabe exatamente o que isso significa?
“Na prática, identidade digital é uma representação digital dos dados relacionados a uma pessoa, ou seja, é um meio eletrônico de identificar alguém. Ter um RG digital não necessariamente representa toda a sua identidade digital”, explica Gabriela Dias, diretora de Engenharia de Confiabilidade e Segurança na Unico, empresa especializada em identidade digital.
Trata-se de conjunto de atributos, como dados pessoais, biométricos e comportamentais, que caracterizam um indivíduo no meio digital para simplificar o acesso a bens e serviços. A partir da integração de mecanismos, soluções de identidade digital podem garantir também mais privacidade e segurança ao dono daqueles dados.
A executiva da Unico reforça que o processo de validação da identidade precisa ser seguro. “Não basta que um banco, por exemplo, tenha a posse do RG Digital de uma pessoa para validar sua identidade e abrir uma conta. Na maior parte das vezes, existe um processo que vai além do seu documento digital, como tecnologias que usam a biometria facial somadas a um documento digital. Esse pode ser um mecanismo de identidade digital”, diz Gabriela Dias.
Por isso, ao solicitar seus dados, as empresas não querem apenas o número de seu RG. O objetivo é traçar um perfil dos clientes. Assim, fica mais fácil elaborar um padrão de consumo, criar itens sob medida e entregar uma experiência personalizada.
Como acontece na prática
Quer um exemplo? O engenheiro Célio Santos preencheu o cadastro de uma empresa que comercializa artigos esportivos para receber descontos em alguns produtos. “Depois disso, comecei a ser bombardeado por propagandas de outras lojas. Imagino que meus dados tenham sido utilizados após aquele cadastro. Fiquei preocupado e com medo de que alguém pudesse usá-los para algum golpe”.
O risco de golpes é sempre um dos pontos que mais preocupam o mercado. Ao preencher formulários em sites, o usuário corre o risco de ter seus dados vazados em caso de um incidente. “Se um golpista conseguir acessar dados importantes de um usuário, ele poderá usar isso a seu favor de inúmeras formas, desde abrir uma conta bancária e fazer empréstimos até se passar pela própria pessoa em alguma outra situação e aplicar golpes”, destaca o professor do Centro Universitário FMU, Cláudio Boghi.
Por isso, a dica de ouro da diretora de Engenharia de Confiabilidade e Segurança na Unico é estar atento na hora de compartilhar as informações e avaliar quando não há necessidade de fornecer determinado dado pessoal.
“Todos os nossos dados pessoais são sempre informações riquíssimas para pessoas mal-intencionadas. A gente precisa ter a consciência de compartilhar apenas as informações que são de fato relevantes para um determinado contexto e questionar sempre o porquê de informar nossos dados”.
Afinal, existem milhares de golpes ou tentativas de fraudes que acontecem diariamente. “Gosto de dar um exemplo muito simples que aconteceu recentemente com a minha sogra. O WhatsApp dela foi sequestrado, porque a quadrilha viu em uma rede social pública que ela tinha passado um final de semana numa pousada na praia. Criaram um perfil falso da pousada para trocar mensagens com ela, informando que ela tinha ganhado um voucher para retornar lá sem custo. Mas, para validar o sorteio, precisaria passar o código que seria enviado a ela por SMS. Na prática, esse código era a validação da troca de celular de sua conta do WhatsApp”.
Portanto, sempre questione o motivo pelo qual precisa compartilhar algum documento e lembre-se de que existem muitos mecanismos de segurança para reduzir o risco de vazamento de dados, sequestro de contas, como usar duplo fator de autenticação nas plataformas digitais, diz Gabriela.
“Não acredite em tudo que se vê na internet e nas redes sociais, tenha sempre um pouco de malícia antes de sair criando contas em sites ou plataformas que prometem um monte de coisa de graça. Use a própria internet para pesquisar o histórico dessa empresa”, comenta a especialista.
Suporte da lei
Outra dica é se informar sobre a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Ela existe para proteger as pessoas nesse mundo cada vez mais digital. Dessa forma, entenda seus direitos e esteja no comando dos seus dados pessoais. A legislação, por exemplo, obriga as empresas a terem um melhor controle sobre seus dados e exige que elas peçam seu consentimento ao capturar e armazenar essas informações. A LGPD também proíbe o compartilhamento de dados sem o seu consentimento.
“Eu recebi ligação de uma empresa, por exemplo, que eu nunca tive um relacionamento. Ou seja, eles não tinham o meu consentimento para ter meus dados, como nome, telefone e, sabendo dos meus direitos, solicitei a exclusão dos meus dados, conforme previsto na lei”, explica Gabriela.
E mais: proteja suas redes sociais. “Será que precisamos deixar nossas vidas expostas para bilhões de pessoas ao redor do mundo? Explore as configurações de segurança e privacidade das suas plataformas digitais. Estamos caminhando cada vez mais para uma sociedade digital, mas também temos que nos preocupar em aprender a viver nessa sociedade”, finaliza a diretora de Engenharia de Confiabilidade e Segurança na Unico.