Uma das histórias de maior descaso no Brasil começa no ano de 1903 e se estende por décadas no Colônia, nome dado ao maior hospício do país, responsável por ceifar 60 mil vidas em Barbacena, Minas Gerais. Esta narrativa pouco conhecida pelos brasileiros, foi investigada por Daniela Arbex e Helvécio Ratton, transcrita no livro “Holocausto Brasileiro” e no documentário “Em Nome da Razão”. Estas obras inspiraram o diretor e produtor Juliano Candia Pedrozo a criar o projeto “Crônico Social”.
Foi por meio da dança, área de atuação de Juliano, que algumas das realidades vividas no Colônia são interpretadas. A partir de uma apresentação artística gravada, “Crônico Social” será lançado no próximo sábado, dia 19 de junho, as 20h. Mais informações estão disponíveis nas redes sociais do diretor (@julianocandiapedrozo) ou no link direto https://www.youtube.com/watch?v=Vewu4jnBa5Y
Os bailarinos Mayara Matoso, Elinei Morais, Douglas Dutra e Danilo Nogueira usam seus corpos para dar vida às trágicas histórias de quem viveu essa triste realidade. “Desde que recebi o convite do Juliano para compor o espetáculo, demonstrei um grande interesse por conta do currículo dele como diretor e pela proposta que ele queria trazer. A ideia passa longe de tudo que a gente costuma ver na cena artística da dança e um assunto importante e esquecido ou muitas vezes desconhecido por grande parte da população”, conta Danilo Nogueira.
De acordo com Elinei Morais, o processo para este espetáculo se difere de todos os outros já feitos por ele. “Tem uma coisa que eu gosto muito que é a parte cênica e, neste projeto em específico temos a mistura da dança com o segmento teatral. É um desafio porque temos que representar algo inconsciente e ao mesmo tempo uma coisa que agrade a produção do projeto, tem me permitido viajar em possibilidades”, discorre ele.
Mayara Matoso relembra como foi intenso o período de ensaio e gravação. “Saí totalmente da minha zona de conforto com este projeto. Entendi que teria que estudar mais do que o normal e entender mais o processo. Tivemos pouco tempo para ensaiar e a gravação foi bem intensa”, pontua.
Douglas vai além e diz ter se questionado muito a respeito da dualidade entre loucura e sanidade. “Este projeto nos fez ensaiar demais, questionar muita coisa e pesquisar. Me fez ter contato com muitas sensações. Bastante tristeza eu senti em ver a situação, tudo que foi feito naquele lugar. Mas acima de qualquer coisa, com certeza, este projeto me fez refletir. Parece um caso isolado, muito discrepante, entretanto quanto mais você se aproxima da loucura mais se questiona sobre o que consideramos normal na sociedade”, diz.
De acordo com Juliano, o que ocorreu no Colônia não é uma realidade isolada. “O hospício em questão se reproduz em vários outros lugares, às vezes com pequenas diferenças e nomes sofisticados. Esta obra é um depósito, de improdutivos de uma maneira geral, de inadaptados, de indesejáveis e de desafetos, todos aqueles que por um ou outro caminho se desviam daquilo que chamamos de normalidade. Aqui ele é confinado para sempre e recebe um rótulo, crônico social”, pontua.
Ainda segundo o diretor, o projeto aborda a dificuldade de uma sociedade em aceitar o diferente e que, por isso, o define e exclui. “O ‘eu’ é violado e devassado a todo momento. O monopólio da loucura funda-se no controle da irracionalidade. Eram considerados loucos os esquizofrênicos, mendigos, homossexuais, drogadictos e outros dissidentes sociais. Este trabalho expressa a sociedade que está inserida que é incapaz de suportar as diferenças, demonstrando assim todo seu poder de opressão”.
“Crônico Social” recebeu recursos da Lei da Aldir Blanc, por meio da Fundação de Cultura do Governo do Estado. Acessível, o projeto pode ser assistido por todos pois conta com o trabalho da intérprete de libras Claudia Ester Soares Candia. Assista direto no link https://www.youtube.com/watch?v=Vewu4jnBa5Y
Sobre Juliano
Mestre em Educação pela Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Licenciado pleno em Educação Física pela (UFMS – 2009). Bailarino de grandes companhias de dança em Belo Horizonte como Cia Harmonia de dança e Mimulus cia de dança. Atuou como professor de dança de salão na Mimulus escola de dança e do Studio It de danças. Trabalhou como cenotécnico contratado da Mimulus cia de dança, assistente de figurino, assistente de palco e coordenador de assuntos gerais das duas escolas. Atualmente é diretor e bailarino da Luminis Cia de Dança e diretor da Escola Luminis de Dança e já estreou quatro trabalhos, sendo eles “Términos”, “Sambatango”, “Sinastria” e “Apartamento 901”. Todos estes espetáculos podem ser conferidos nas mídias sociais da Luminis Cia de Dança, no Youtube, ou diretamente AQUI.
Assessoria.