O Instituto Moinho Cultural Sul-Americano recebeu, nesta sexta-feira (29), a deputada federal Camila Jara, responsável pela emenda parlamentar que viabilizou a pintura da sede da instituição, em Corumbá. A visita foi marcada por apresentações artísticas dos participantes e por uma programação que destacou o protagonismo de crianças e adolescentes, além de reafirmar o compromisso conjunto em defesa da infância na região de fronteira.
Durante a visita, Camila destacou a importância do Moinho como espaço de transformação social. “É maravilhoso ver a transformação de vidas que acontece aqui. É maravilhoso ver como a cultura pode chegar mesmo tão distante. É impressionante ver o Pantanal pulsando no meio de Corumbá. Muito obrigada pela atividade do Moinho Cultural, que não só resgata as nossas crianças, mas mais do que isso, faz com que cada pessoa que aqui se envolve nesse projeto saiba que quando a gente se junta, quando a gente oferece oportunidades, a gente pode sim mudar não o futuro, mas mudar o agora”, declarou a deputada.
O encontro acontece em um momento em que a defesa dos direitos da infância ganhou força no debate nacional. Nos últimos dias, o influenciador Felca viralizou com um vídeo sobre a adultização precoce das crianças, enquanto a minissérie brasileira Psica, lançada pela Netflix, trouxe à tona os impactos da exploração sexual infantojuvenil na região Norte do país. Esses episódios reforçam a urgência da mobilização em torno do tema, pauta que o Moinho Cultural já vem protagonizando na fronteira pantaneira.
O Moinho é articulador da RECAF (Rede da Criança e do Adolescente da Fronteira), que desde 2023 busca fortalecer a proteção da infância em áreas de vulnerabilidade, estimulando a criação de políticas públicas. Uma das principais ferramentas dessa mobilização é a Carta da Criança e do Adolescente da Fronteira, já entregue a diferentes autoridades. Entre os nomes que receberam o documento estão a ministra da Cultura, Margareth Menezes, durante a 4ª Conferência Estadual de Cultura em Campo Grande, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, a própria deputada Camila Jara e o deputado estadual Paulo Duarte.
Para a fundadora e diretora artística do Moinho, Márcia Rolon, a defesa da infância exige articulação política e cultural. “Nosso papel é estimular e provocar a criação de políticas públicas. A fronteira não pode ser vista apenas como limite geográfico, mas como espaço de encontro e de direitos. O Moinho é protagonista porque atua de forma política, social e cultural pela infância”, afirmou.
Márcia Rolon ressalta que a Carta da Criança e do Adolescente da Fronteira é fruto de uma escuta coletiva e hoje também se torna material acadêmico de sua pesquisa de doutorado. “Ela simboliza o olhar da própria fronteira sobre si mesma, chamando atenção para a necessidade de proteger nossas crianças. Não podemos aceitar apenas o olhar externo do governo; quem vive aqui é quem deve falar sobre esse território. O Moinho Cultural é pioneiro em propor uma cultura de paz e criar redes que unem Brasil, Bolívia e Paraguai em defesa da infância”, disse.
A diretora executiva do Moinho Cultural, Mônica Macedo, também carrega esse compromisso. Como presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente de Mato Grosso do Sul, ela ressalta a importância da pauta. “A defesa da infância precisa estar no centro das prioridades. O Moinho Cultural, ao longo de quase 20 anos, tem mostrado que cultura e educação são caminhos de proteção e transformação. Vamos seguir firmes nessa missão, com gestão sólida e mobilização social”, reforçou Mônica.
Dados recentes evidenciam a gravidade do cenário. Um relatório inédito da SaferNet Brasil revelou que, entre janeiro e julho de 2025, foram registradas 49.336 denúncias de abuso e exploração sexual infantil online, correspondendo a 64% de todas as notificações do período. Os números representam um pico histórico e reforçam a necessidade de ampliar o debate público e a mobilização social em defesa da infância.
Além da articulação política, o Moinho Cultural promove projetos que fortalecem a conscientização desde cedo. O “De Criança para Criança” leva participantes do Instituto a escolas públicas para dialogar sobre direitos e cidadania, transformando-os em multiplicadores. Já o “Roda Moinho” leva música, dança, letramento e literatura a comunidades periféricas e áreas de vulnerabilidade, ampliando o alcance da cultura como ferramenta de transformação.
Com quase 21 anos de atuação e mais de 25 mil crianças e adolescentes atendidos, o Moinho Cultural reafirma seu papel como rede de proteção e esperança, unindo arte, educação e mobilização social em prol da infância e adolescência na fronteira Brasil–Bolívia.