Por: Simone Cougo*
O mês de abril é definido como o Mês de Conscientização do Autismo e objetiva a divulgação de informações sobre o assunto. O autismo é uma condição do neurodesenvolvimento que envolve fatores genéticos. É crescente o número de pessoas com diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista e, por isso, é relevante compreender os diferentes processos históricos e políticos que o constituíram.
A primeira descrição do autismo como uma entidade diagnóstica diferenciada ocorreu em 1943, com o psiquiatra infantil Leo Kanner. Este e outros autores consideravam o autismo como uma patologia afetiva, cujo agente desencadeador era o mau relacionamento entre mães e filhos, caracterizando as mães como frias, como “mães-geladeira”.
Em 1998, foi publicado um artigo que associava a vacina tríplice – que protege contra sarampo, rubéola e caxumba – ao autismo, cujo principal autor foi o médico britânico Andrew Wakefield. Investigações mostraram que os dados da pesquisa foram forjados e alguns autores tinham sérios conflitos de interesse, o que levou a revista a retirar o artigo de seus arquivos. Embora, quando publicado, o artigo tenha sido alvo de críticas por parte da comunidade científica, o trabalho teve grande repercussão na sociedade e colaborou para mais um grande equívoco sobre a compreensão do autismo.
Após uma longa caminhada iniciada na década de 1980 por mães e pais de autistas, foi sancionada no Brasil a Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012, conhecida como Lei Berenice Piana, que representa um importante marco na história da cidadania da pessoa autista. Esta lei representa avanços significativos em torno do autismo: para fins legais, o autista é considerado pessoa com deficiência, passando a adquirir os mesmos direitos legalmente assegurados a tal grupo.
Autistas não vivem “um outro mundo”, não existe cura. O autismo é um modo de funcionamento humano, pois a deficiência é uma característica humana. Não é um defeito.
Muitas pessoas têm defendido protocolos e tratamentos como dietas alimentares diferenciadas e tratamentos alternativos, no entanto é preciso considerar o que existe na literatura científica que pode efetivamente contribuir de forma positiva para a vida destas pessoas.
É mais produtivo buscar tratamentos adequados, tendo como ideal um acompanhamento multidisciplinar com profissionais – como psicólogos, médicos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, educadores, entre outros – que estejam continuamente buscando uma compreensão efetiva, respeitosa à diversidade do autismo e que garanta a inclusão social.
*Simone Cougo é psicóloga e professora do curso de Psicologia da Estácio Campo Grande.