Por: José Lucas da Silva*
Autoridades, inclusive econômicas, têm afirmado que há vagas sobrando no mercado de trabalho, especialmente no comércio. Essa informação, embora verdadeira, não reflete um cenário de prosperidade econômica ou pleno emprego. Na realidade, o que ocorre é que os baixos salários oferecidos estão desestimulando jovens e adultos a ocuparem essas posições.
Como pode um trabalhador ser contratado para ganhar um piso salarial de R$ 1.700,00 por mês, em um supermercado, por exemplo, e ter direito a apenas um domingo de folga por mês para passar com a família? Essa prática ultrapassa os limites da dignidade, beirando a desumanidade. Ofertas como essa refletem a desigualdade nas relações de trabalho, onde o lucro do empregador se sobrepõe às necessidades básicas do trabalhador.
A recente discussão nacional sobre a mudança na carga horária trabalhista, com o objetivo de substituir o sistema de 6×1 (seis dias trabalhados para um de folga), é uma oportunidade valiosa para abordar de forma mais ampla as condições salariais e de trabalho no Brasil. Não podemos mais aceitar que empresas enriqueçam à custa de salários insuficientes pagos aos seus colaboradores, que são, em última instância, os pilares do sucesso de qualquer negócio.
Trabalhadores têm família, sonhos e responsabilidades. Eles merecem ser remunerados de forma condizente com o valor que agregam às empresas e à sociedade. A prática de pagar pouco mais que o salário mínimo pode ser legal, mas é, sem dúvida, imoral. Afinal, o desenvolvimento de qualquer organização depende diretamente da dedicação de seus colaboradores.
É essencial que empregadores desenvolvam uma consciência mais justa e retribuam adequadamente o trabalho prestado. O capitalismo é, de fato, um modelo econômico eficiente, mas não pode funcionar à custa da exploração da maioria. O equilíbrio entre lucro e justiça salarial não só beneficiaria os trabalhadores, mas também impulsionaria a economia, gerando consumidores mais ativos e estimulando o crescimento do mercado.
Além disso, o poder público tem papel fundamental nesse processo. Reduzir a carga tributária sobre produtos de consumo básico e aliviar o peso dos tributos que recaem sobre empresários são medidas cruciais para viabilizar melhores condições de trabalho e remuneração. Com políticas fiscais adequadas, seria possível criar um ambiente econômico mais saudável, onde empregadores e empregados se beneficiem mutuamente.
Tudo isso é viável, desde que haja vontade política e conscientização social. Não podemos continuar aceitando a triste realidade de trabalhadores e suas famílias vivendo com migalhas, enquanto o fruto de seu trabalho enriquece apenas uma parcela privilegiada da sociedade. A luta por salários justos não é apenas uma questão de justiça social, mas de respeito à dignidade humana e ao potencial de cada cidadão.
O que está em jogo é o futuro do mercado de trabalho no Brasil, que só será verdadeiramente competitivo e produtivo quando aqueles que o sustentam tiverem condições reais de viver e crescer com dignidade.
*Presidente da Feintramag MS/MT