Por: Fernando Mendes Lamas
No mundo moderno, onde a comunicação é algo espetacular, proporcionando a todos terem conhecimento do que ocorre em um determinado lugar do globo quase que em tempo real, “novos” termos surgem a todo instante, nas mais variadas áreas.
Um dos termos muito em uso na atualidade entre aqueles que, de uma forma ou de outra, se ocupam com a produção agrícola, é “agricultura regenerativa”. Quando nos referimos à agricultura regenerativa, vêm à nossa cabeça diversas coisas, sendo a mais frequente, que é necessário regenerar. Pelo dicionário da Língua Portuguesa, Houaiss, regenerar significa gerar ou produzir novamente; formar(-se) de novo”. Mas regenerar o quê?
Os fundamentos da agricultura regenerativa estão na prática de uma agricultura que seja sustentável, como utilizar rotação de culturas – cultivar espécies diferentes a cada ano agrícola; utilizar prática mecânica, edáfica e vegetativa para evitar o escorrimento superficial da água – reduzir os processos erosivos que tanto mal fazem para a sociedade rural e urbana; adotar o sistema plantio direto que envolve a rotação de culturas, solo permanentemente coberto com palha ou vegetais em crescimento, o mínimo de revolvimento do solo, fazer a semeadura em nível – nunca semear no sentido da declividade. Quando as boas práticas agrícolas exemplificadas acima são adotadas, o impacto negativo da atividade agrícola será mínimo tanto sobre o ponto de vista físico, químico e biológico.
Ainda hoje, em pleno século 21, muitas áreas agrícolas não utilizam práticas conservacionistas ou as utilizam de maneira equivocada. O aprimoramento do sistema plantio direto, realizado pela Embrapa Agropecuária Oeste, é uma significativa ação para evitar a degradação do solo agrícola. A distância entre terraços não pode ser aquela limitada pelo tamanho ou largura de uma máquina ou implemento agrícola. Para o cálculo da distância entre terraços existe toda uma metodologia científica que leva em consideração vários fatores, onde entre eles não está o tamanho da máquina. Sistemas agrícolas simplificados, que são aqueles onde se cultiva uma ou no máximo duas espécies, são sistemas extremamente vulneráveis. Sob o ponto de vista biológico é fundamental proporcionar condições para que a vida microbiana do solo possa efetivamente exercer a sua principal função que é assegurar a produtividade do solo, melhorando ou mantendo em níveis considerados adequados os atributos físicos e químicos do solo.
Assim, quando estamos falando em agricultura regenerativa, é fundamental a utilização das práticas agrícolas que mantenham ou até melhorem a capacidade produtiva do solo. Cabe destacar que a adoção de práticas de controle à erosão, sistema plantio direto, dentre outras, contribuem de forma significativa para a redução dos efeitos negativos de períodos de “veranicos”, tão comuns nas principais regiões agrícolas do Brasil. Com a adoção das práticas agrícolas sobre as quais já temos conhecimento, vamos evitar ter que regenerar a agricultura.
Em áreas com algum grau de degradação, com o auxílio da assistência técnica, a primeira iniciativa para reverter o processo de degradação é entender as razões pelas quais aquela área se encontra em estado de degradação. A partir de estudos detalhados, são propostas práticas agrícolas visando à recuperação e manutenção da capacidade produtiva do solo. Será isto agricultura regenerativa? Entendo que sim. Na realidade, o que se propõe como agricultura regenerativa é o mesmo que deve ser feito para se produza sem degenerar ou degradar.
Cabe aqui destacar que, mais importante do que regenerar é evitar que seja necessário a regeneração. Assim, teremos assegurado aumento da matéria orgânica do solo, a menor emissão de gases de efeito estufa e a segurança alimentar da população.
*Pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste