Com uma beleza única e cultura marcante, o Pantanal Sul-mato-grossense é sinônimo também de progresso e desenvolvimento socioeconômico. Entretanto, a falta de infraestrutura e logística para o transporte da produção e, sobretudo, para o atendimento básico às famílias pantaneiras, reforça a importância da construção de estradas e acessos na região.
A comunidade pantaneira, que são milhares de ribeirinhos, pescadores, trabalhadores rurais e caminhoneiros da região, testemunha grandes dificuldades vivenciadas cotidianamente por eles, principalmente para o acesso a serviços básicos, como saúde e educação.
“Se acontece um acidente ou qualquer problema de saúde, como chegar até a cidade? Muitas vezes só avião resolve, mas em dia de mau tempo, ou de noite, não tem condições. Hoje, a única saída é enfrentar 40 horas de lancha, e nem sempre dá tempo de salvar a vida da pessoa” relata o produtor rural, Sicard Barros.
Aos 80 anos, ele quer ver uma nova realidade no local onde nasceu e vive. “Hoje, não temos acesso nenhum. Só a estrada Boiadeira. Vir a cavalo do mato até a cidade, não tem condições. As distâncias aqui no Pantanal são enormes”.
As estradas também são fundamentais para o acesso, por exemplo, a serviços de energia e internet, o que gera oportunidade de emprego e renda. “Todos esses recursos são difíceis de serem adquiridos sem uma estrada, por causa das condições de acesso”, conta o morador Justino do Nascimento.
Infraestrutura e competitividade
Uma das vias importantes para comunidade é a MS-228. Com extensão de 135 quilômetros, o trecho vai ligar Corumbá, no oeste de Mato Grosso do Sul, às cidades de Rio Negro e Rio Verde do Mato Grosso, na região norte.
Com início em março de 2019, as obras já estão com aproximadamente 40 quilômetros com cascalho pronto, já melhorando a qualidade de vida e trabalho para parte das famílias do entorno.
“Antes dessa obra o tempo de viagem era muito maior, e o caminhão sempre quebrava o rolamento. A gente saía, mas sem a certeza de chegar. Aconteceu de eu ficar até dois dias atolado na estrada, esperando o trator puxar. Com essa obra, vai e volta tranquilo. Sem contar que conseguimos transportar o dobro de carga, pela segurança do local”, explica o caminhoneiro Luiz Lima Costa.
“Sem a estrada era impossível chegar no destino no mesmo dia. Esses 40 km já fazem muita diferença para quem precisa se deslocar da área rural até a urbana de Corumbá. Até nos casos de incêndios, o socorro é muito mais ágil. Com a obra pronta, tudo será ainda melhor”, relata o funcionário de uma propriedade rural, Angelino de Arruda.
O produtor rural Dirceu Miguéis Pinto afirma que a estrada deve melhorar ainda mais a competitividade, facilitando a abertura de novos mercados. “Hoje, nosso produto está muito distante do comprador. É necessária a estrada para transportar a nossa produção, abastecer nossa propriedade, atender nossos colaboradores”, explica.
Acesso e Dignidade
O produtor de carne orgânica pantaneiro, da Nhecolândia, Leonardo de Barros, destaca que as rodovias são vitais para a dignidade das famílias que lá vivem. “As estradas vão proporcionar exatamente o que falta para a comunidade da região, que é dignidade, que vem com escola, educação, saúde, e acesso mínimo. Proibir acesso a essa gente é desumano”.
Ele complementa que defendem as obras que não gerem qualquer impacto à natureza, que sigam todos os parâmetros da construção, do respeito aos cursos d’água, fauna e flora e legislações ambientais.
“Estamos falando da região mais protegida e conservada desse país. E isso se deu, basicamente, devido à boa convivência da população, sua economia e a natureza. A importância das estradas, fundamentalmente, está na inclusão dessa comunidade ao processo econômico brasileiro”, afirma o produtor rural Manoel Martins de Almeida.
Representatividade rural – Por meio dos sindicatos rurais, os produtores pantaneiros estão reforçando a necessidade da implantação e continuidade das obras de estradas no bioma. Na última quinta-feira (13), foram realizadas reuniões na sede do Sindicato Rural de Corumbá, com a participação de outros sindicatos rurais pantaneiros: Rio Negro, Sonora, Rio Verde, Porto Murtinho, Coxim, Miranda e Bodoquena, Aquidauana e Anastácio.
“Com logística e infraestrutura, podemos mudar a realidade do pantaneiro de duzentos anos atrás, para a época atual, onde você tem acesso à saúde educação, lazer, transporte. É inaceitável, em 2023, enfrentar dois dias de lancha para andar 300 quilômetros e depois pegar um trator para andar mais dez horas. A estrada irá solucionar todas essas demandas pantaneiras, que são de muitos anos”, afirma o presidente do Sindicato Rural do município, Gilson de Barros.