No Brasil, mais de 839 mil pessoas estão encarceradas, conforme o último levantamento do Sisdepen (Sistema de Informação do Departamento Penitenciário Nacional). No dia 24 de maio, é celebrado o Dia Nacional do Detento, que tem por objetivo refletir sobre as causas e critérios que levam ao encarceramento em massa, bem como sobre a situação e condições da população carcerária brasileira, tanto durante o cumprimento de penas quanto após o fim destas. Atento a este problema, e buscando contribuir com a reinserção de egressos do sistema prisional na sociedade a partir do trabalho, o Grupo Pereira, sétimo maior varejista do país, criou o Projeto Reeducandos.
A contratação de apenados do regime semiaberto pelo Grupo Pereira iniciou-se no Atacado Bate Forte, em 2014. Desde então, cerca de 650 reeducandos já passaram pela iniciativa, que tem como principal objetivo ajudar na ressocialização e recolocação de detentos em regime semiaberto no mercado de trabalho, promovendo cidadania e, consequentemente, contribuindo com a diminuição da reincidência de crimes.
De acordo com Paulo Nogueira, diretor de Gente e Gestão no Grupo Pereira, a ação está totalmente atrelada ao propósito da companhia de ser um bom lugar para passar a vida, transformando as pessoas e o ambiente ao redor. “O projeto provou que há chance de detentos voltarem à sociedade totalmente recuperados. Ficamos muito orgulhosos de oferecer oportunidade de emprego e ressocialização. Começamos a acompanhar as saídas do regime prisional e a avaliar possíveis contratações, o que já resultou em 26 reeducandos contratados no regime CLT, sendo que, destes, três já receberam promoções e ocupam cargos de liderança”.
A iniciativa do Grupo Pereira começou no Mato Grosso do Sul, em parceria com o Conselho da Comunidade. Com o tempo, o Programa foi se estruturando e se expandindo para as bandeiras do Supermercado Comper e do Fort Atacadista. Uma das últimas iniciativas foi a criação da Central de Manutenção de Carrinhos no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, fruto de uma parceria com a Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (FUNAP). Outra Central de Carrinhos também existe no Centro Penal de Gameleira, também no Mato Grosso do Sul.
Outra novidade foi a contratação de mulheres egressas de presídios femininos. A ação começou em 2022, no Mato Grosso do Sul, e atualmente 17 presas do regime semiaberto foram integradas ao Reeducando para trabalhar na área de flores, bazar e na organização e no layout desses espaços nas lojas.
A intenção do Grupo Pereira é levar o Programa para todos os outros cinco estados onde atua. A perspectiva é de, ainda neste ano, expandir o Reeducandos para os estados do Mato Grosso e Santa Catarina.
Histórias de reinserção
Recomeçar e ressignificar. Essas duas palavras se aplicam muito bem à vida de Railson Gomes de Oliveira, que ingressou no projeto em julho de 2022, no Supermercados Comper, no Distrito Federal. “Estou gostando muito desse projeto e da oportunidade que recebi. Estou aprendendo muito nesse trabalho e as pessoas, mesmo sabendo do meu histórico, me respeitam e me ajudam.”
Em 2014, no Mato Grosso do Sul, Gustavo Andrade Gusmão, de 39 anos, foi preso depois de uma batida da Polícia Militar e foi condenado a oito anos de detenção. A chance de mudar essa realidade surgiu em 2019, quando estava em regime semiaberto e se candidatou para trabalhar no Fort Atacadista, em Campo Grande, a partir do programa Reeducandos. Com isso, a perspectiva de futuro de Gustavo Gusmão mudou. Desde que entrou na empresa, trabalhou com descarga de mercadorias e reposição dos produtos. Após tanta dedicação e muito trabalho, estimulado por sua gerente, voltou à escola. Ao terminar o Ensino Médio, Gustavo se matriculou na faculdade para o curso de Administração e, hoje, ocupa um cargo de gestão – ele é responsável por uma equipe de reposição. Pai de uma filha de oito anos, Gustavo projeta um futuro ainda melhor. “Quero ser encarregado operacional, subgerente da loja, ou até o futuro diretor da empresa. Esses são meus sonhos, meus planos de carreira”, conta.