Uso de drones em atividades de monitoramento é aposta de tecnologia e segurança para trabalho de proteção de territórios indígenas na região do Pantanal e da Amazônia Legal. Com esse objetivo, um curso pilotagem do equipamento para gestão do território foi promovido junto com indígenas da etnia Kadiwéu, do Estado de Mato Grosso do Sul, e de quatro etnias (Macuxi, Wapishana, Taurepang e Patamona) da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, do Estado de Roraima.
Realizado na segunda quinzena de março, o curso faz parte do programa “Bem Viver”, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) em parceria com a Nature and Culture International, instituição norte-americana. Capacitação que contou o apoio da Wetlands International Brasil e Mupan – Mulheres em Ação no Pantanal, com sede no Mato Grosso do Sul, e do Conselho Indígena de Roraima (CIR). O curso ainda terá uma aula presencial com os Kadiwéu no mês de abril.
“Recebemos o convite da Nature and Culture International em hora oportuna, pois a pandemia tornou mais difícil o acesso às aldeias. Sem contar que o curso engrandece as ações de conservação do Pantanal promovidas dentro do Programa Corredor Azul, no componente ‘Modos de Vida’, que desenvolvemos com os Kadiwéu”, explica Pedro Cristofori, geógrafo e membro da Wetlands International Brasil.
Na prática os drones podem ser usados em mapeamento territorial e ambiental para conservação de áreas de natureza, estudos do clima e da qualidade da água, monitoramento de combate ao desmatamento e invasão de terras indígenas.
Ação que pode ajudar e muito os dois biomas do País que, em 2020, tiveram grande áreas consumidas pelo fogo, conforme pontua o indígena Baltazar Lourenço, integrante da Associação dos Brigadistas Indígenas da Nação Kadiwéu (Abink). “Ano passado, sofremos muito com os incêndios, a nossa área é de morro. Com o drone a gente vai conseguir monitorar melhor esses limites para combater o fogo”.
Só o Território Indígena Kadiwéu teve 247,3 mil hectares queimados, 45,9% área total, que possui 538 mil hectares. “Com drone tem como fazer uma varredura das beiradas do Pantanal, aqui, e monitorar, ajudar ainda mais a equipe do Ibama no combate e prevenção de queimadas”, avalia a indígena Kadiwéu, Marilsa Pinto
O analista de pesquisa do IPAM, Matheus Bandeira, enfatiza que o curso, com 12 horas-aula, seguiu padrões de biossegurança afim de trabalhar um rico material com os alunos. “De legislação, fundamentos de voo até processamento de dados, pontuamos vários conteúdos de forma online com os participantes. Posteriormente, monitores locais ensinaram a parte prática. Medida adotada em razão da pandemia”.
“Temos três drones e há previsão da chegada de mais um. Equipamentos que irão ajudar no monitoramento do clima, mapeamento das terras e criar barreiras para o desmatamento e invasão de garimpeiros”, diz a indígena Wapishana, Sinéia do Valle, que conhece a realidade da Amazônia Legal, “Já fazemos uso de celulares, GPS e APP de alerta do clima e trocamos informações com os povos do Xingu [MT]e do Maranhão”.
Ponto de vista compartilhado por Fernando Gonçalves, indígena Terena da aldeia Imbirussu, do município de Aquidauana, onde o bioma pantaneiro também se faz presente. “Aqui, temos trabalho com reflorestamento, recuperação de nascentes, viveiro e pelo curso a gente vê como o drone pode auxiliar em diferentes frentes”.
“Apesar de estarem em pontos diferentes do Brasil, as problemáticas dessas etnias são bastante semelhantes. Em Roraima, são mais de 2 milhões de hectares de terras indígenas. No MS, há outro grande território e ambas comunidades estão em áreas úmidas que enfrentam pressões em suas terras. Daí a necessidade de empoderar esses povos”, destaca Reinaldo Lourival, representante da Nature and Culture International.
Além dos indígenas, também participaram do curso membros da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro/MS).
Assessoria.