As habilidades e capacidades criativas de Mike Emme, um jovem americano de 17 anos conhecido por dar voltas pela cidade com seu Mustang amarelo restaurado por ele, não se sobrepuseram ao seu sofrimento, e no ano de 1994 ele resolveu pôr fim a sua vida. Seus pais e amigos não perceberam o seu sofrimento, distribuíram aos presentes no velório uma cesta de cartões com laços amarelos com a mensagem: “Se precisar, peça ajuda”. A ação expandiu-se por diferentes países em que jovens passaram a compartilhar suas dores e angústias utilizando-se de cartões amarelos.
A sensibilidade diante do silêncio e o sofrimento do outro é algo que diz respeito aos profissionais de saúde, mas perpassa nossos lugares enquanto pai, mãe, filho, irmão, amigo…
No ano de 2003 a Organização Mundial de Saúde (OMS) instituiu o dia 10 de setembro como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. O laço amarelo tornou-se símbolo deste dia como forma de incentivar aqueles que têm pensamentos suicidas a pedirem ajuda. O suicídio é um fenômeno social, complexo, multifatorial presente ao longo da história na humanidade e relacionado a fatores psicológicos, ambientais, econômicos e culturais, tornando-se um problema de saúde pública no mundo.
Walter Benjamin, em sua obra O Narrador – Considerações sobre a Obra de Nicolai Leskov, salienta a necessidade de recuperação da capacidade narrativa dos sujeitos. Possivelmente, este empobrecimento impede de nomearmos as dores e a tristeza no lugar de ser a via de travessia para a transformação de vidas, setembros com outros tons, multicoloridos. Dá-se lugar ao silenciamento, tons de cinza, reservado à depressão e formas de violência contra si, em uma atitude desesperadora de pôr fim ao sofrimento.
A OMS (2019) aponta o suicídio como a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos de idade. No Brasil esta é a terceira causa de mortes, sendo que a prevalência é 45% maior em jovens pardos e negros em relação aos brancos. Imersos, em sua maioria, em contextos de vulnerabilidade social que contribuem para este índice alarmante de suicídios desta população, o preconceito, a humilhação racial a que são submetidos produzem dores imensuráveis e danos psicológicos irreparáveis que culminam em práticas que levam ao suicídio.
Ao considerarmos os aspectos sociais e culturais do processo de adoecimento, tornam-se imprescindíveis, além da consolidação de políticas que garantam o acesso à educação, trabalho, cultura, processos de produção de vida e esperança destes jovens, olhar para as juventudes negras como potência, tirando as lentes do preconceito, refletindo sobre o nosso papel diante da estrutura racista em que estamos inseridos, possivelmente transformando laços amarelos de pedido de ajuda em laços de solidariedade, respeito à diversidade e inclusão social.
*Simone Chandler Frichembruder, Professora do curso de Psicologia da Estácio.