A população de Ouro Preto (MG) ficou assustada na manhã desta quinta-feira (13) em razão do deslizamento de terra no Morro da Forca. O acidente causou a destruição de um casarão do século XIX que pertencia à Prefeitura e também de um depósito, no centro histórico da cidade. As imagens viralizaram na internet e houve pânico entre os moradores que transitavam ao redor do local.
Apesar da gravidade, ninguém se feriu. Os imóveis estavam interditados desde 2012, quando houve um primeiro deslizamento no mesmo lugar. Minutos antes da terra vir abaixo, o Corpo de Bombeiros conseguiu evacuar a área, ação que garantiu a segurança dos cidadãos.
Chuvas tropicais aliadas a descaso público influenciaram no desmoronamento
O deslizamento de terra que atingiu Ouro Preto foi causado principalmente por um processo natural de movimentos no terreno decorrentes de grandes tempestades tropicais. A explicação é do Doutor em Gerenciamento de Riscos e Segurança pelo Departamento de Engenharia Oceânica da COPPE – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Gerardo Portela da Ponte Junior, que tem especialização em Engenharia de Segurança pelo Charles W. Davidson College of Engineering, The California State University.
Em sua análise, o especialista afirmou que áreas de risco sempre estão sujeitas a esse tipo de acidente, mas as autoridades públicas, conscientes dos riscos, devem sempre agir preventivamente para evitar perdas humanas, patrimoniais, ambientais e de imagem, realizando o isolamento e limitação de acesso.
Para evitar o acidente que destruiu um patrimônio histórico, uma avaliação e estudos de geotecnia deveriam ter sido priorizados, o que inclui a elaboração de um projeto, contratação e execução de obra civil de contenção.
“Muitas vezes os custos são elevados e o tempo pode se estender por meses até a proteção ser alcançada. Essa obra civil não foi executada no caso desse acidente. Então, com chuvas intensas ao longo de vários dias, o terreno acabou alcançando o seu limite de saturação, o limite de sua capacidade de comportar toda a água das intensas chuvas”, explicou Portela.
A partir desse ponto de saturação, a água não tem mais como ser absorvida e o terreno pode perder sua compactação rapidamente, tornando-se instável pelo próprio peso, gerando deslizamentos como o ocorrido na manhã desta quinta-feira (13).
Tragédia poderia ter sido prevista com mais antecedência
A sorte esteve ao lado dos moradores de Ouro Preto, pois o deslizamento só não causou vítimas porque o Corpo de Bombeiros foi acionado às 8h30 para realizar uma vistoria no local por conta de problemas estruturais. Imediatamente, toda a área foi evacuada e, por volta das 9h10, parte do morro veio ao chão, ou seja, foram 40 minutos que salvaram inúmeras vidas graças ao comprometimento do Corpo de Bombeiros e Defesa Civil.
A ação rápida foi bem-sucedida pelo fato de ter evitado perdas humanas, mas houve falhas no quesito de prevenção. Afinal, segundo Portela, é possível prever que uma determinada área possa gerar um deslizamento por meio de análises de risco, geotecnia e coleta de dados meteorológicos.
“Na realidade, o monitoramento das áreas urbanas através de análises e estudos é uma necessidade para que possamos agir proativamente, e não reativamente, depois que os acidentes com perdas humanas e patrimoniais acontecem”, disse.
Área ainda pode sofrer novos deslizamentos
De acordo com o Corpo de Bombeiros, o talude ainda apresenta instabilidades e há risco de um novo desmoronamento na região central da cidade mineira. Um hotel e um restaurante podem ser atingidos. A Defesa Civil está orientando os moradores para que não circulem nas proximidades e toda a população ribeirinha foi retirada de suas casas até que uma avaliação completa dos riscos seja finalizada.
O especialista ouvido pelo Olhar Digital enfatizou que os principais indicadores de risco de deslizamento são as análises e estudos de geotecnia do terreno e o volume de chuvas recentes em curto espaço de tempo.
“Áreas de encosta com identificação de risco de deslizamento por análises e estudos precisam ser isoladas e terem o acesso limitado principalmente no período de grandes tempestades tropicais”.
Portanto, sabendo-se que o Brasil é um país de grandes tempestades tropicais, Portela deixa um alerta para as autoridades públicas:
“O poder público deve entender que não pode deixar de monitorar as áreas identificadas com risco de deslizamento. Esse monitoramento deve ter o objetivo de impedir que as pressões sociais promovam a ocupação desordenada da área urbana, com a construção indevida de moradias nestas regiões sem o respaldo técnico de engenharia que lhe confere segurança mínima”, disse Gerardo Portela.
Fatores que contribuem com os deslizamentos de terra no Brasil
Segundo a análise do especialista, as ações que mais contribuem para acidentes como o registrado nesta quinta-feira são o crescimento e ocupação de áreas urbanas de forma desordenada, carência de moradias seguras a custos aceitáveis para a população mais carente, falta de preparo e conhecimento técnico por parte dos agentes públicos que atuam na gestão urbana.
“A culpa não é “da chuva” nem “da montanha”. O que precisamos é de autoridades capazes de identificar e monitorar áreas de risco, capazes de ordenar a ocupação do espaço urbano e de adotar ações de isolamento, limitação de acesso e de construção de obras de contenção quando tais riscos necessariamente interferem com o espaço urbano”, finalizou Portela em tom de alerta.
Fonte: Olhar Digital.