A cena de jornalistas portando credenciais ameaçados de prisão durante a cobertura de protestos de rua tornou-se comum em locais que atravessam turbulência política como Hong Kong, Nigéria ou Bielorrússia. Mas isso aconteceu há duas semanas em Londres, capital de uma nação com tradição de imprensa livre.
Ainda que aparentemente fruto de uma trapalhada de agentes pressionados pela tensão de enquadrar manifestantes antilockdown pouco amistosos, o caso provocou reação de jornalistas e entidades, que não admitem aqui a hipótese de um jornalista ser impedido de fazer o seu trabalho dessa forma. Sobretudo porque em março os profissionais de imprensa ganharam status de trabalhadores essenciais, assegurando livre trânsito mesmo durante o lockdown.
Na segunda-feira (9/11), a Scotland Yard desculpou-se formalmente e o caso foi encerrado sem grandes consequências. Mas expôs dois riscos à sociedade agravados pela pandemia.
O primeiro é a escalada de ameaças à liberdade de imprensa que se avolumam desde março, inclusive na democrática Europa. Elas vão de meros deslizes como o de Londres a políticas de Estado envolvendo leis coercitivas.
O segundo é o avanço dos grupos contrários a medidas de controle da Covid-19, surfando na desinformação propagada via mídias sociais. Protestos antilockdown como o de quinta-feira têm acontecido quase toda semana em Londres e também em outras cidades europeias, ameaçando retardar o combate à doença mesmo com a vacina parecendo estar próxima.
Acordo do governo com plataformas digitais para conter movimentos antivacina
O governo do Reino Unido tem se mostrado disposto a exercer controle sobre as mídias sociais, pautado sobretudo por movimentos empreendidos por jornais, parte da tradição britânica de jornalismo de campanha. Um exemplo é o do Daily Telegraph, motivado pelo suicídio de uma jovem que viu conteúdo nocivo dias antes de cometer o ato.
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