Movimento. É isso que promete o espetáculo ‘Migrantes’, da Cia de Dança do Pantanal, que será apresentado neste sábado (13), no Teatro Glauce Rocha, em Campo Grande. A apresentação integra a mostra United Dance, que acontece até domingo (14) e reúne quatro companhias sul-mato-grossenses.
O movimento de ‘Migrantes’ é fruto da dança contemporânea, mas também da movimentação do ir e vir. O espetáculo conta a história de pessoas que saem do seu lugar de origem e vão em busca de emprego, vida melhor ou, até mesmo, fogem da violência, da guerra, dos seus próprios temores.
O espetáculo, que já foi apresentado em grandes centros, como Belo Horizonte (MG) e Rio de Janeiro (RJ), além do Festival de Inverno de Bonito no ano passado, fala, ainda, pessoas que deixamos para trás, sobre as recepções em novos lugares e a realização sentida ao se deslocar.
Nos dois dias de mostra, os espetáculos começam a partir das 19h30, mas os ingressos, que são gratuitos, devem ser retirados a partir das 18h, no Teatro Glauce Rocha.
Sobre a Cia
A Cia de Dança do Pantanal foi criada em 2017, na cidade de Corumbá/MS, fronteira com a Bolívia, sendo uma das ações integradas do Instituto Moinho Cultural Sul-Americano. O intuito desde o início é de proporcionar acesso e oportunidade de profissionalização de bailarinos oriundos de projetos sociais sul-americanos, bem como representar o território pantaneiro, divulgando a dança com repertórios que incluem peças neoclássicas e contemporâneas, criadas por coreógrafos nacionais e internacionais.
A Companhia se propõe a explorar e focar em seus trabalhos contemporâneos um dos biomas mais preciosos da Humanidade, o Pantanal, que se estende pelo Brasil, Bolívia e Paraguai, países que têm o estado de Mato Grosso do Sul como adjacente e é considerada a maior área inundável do planeta. A “COMPANHIA DE DANÇA DO PANTANAL” é um espaço onde artistas locais, nacionais e internacionais, formados com um alto grau de conhecimento técnico, artístico e profissional nos padrões internacionais representam Corumbá/MS e o Brasil, dentro e fora do país, para um público cada vez mais exigente de qualidade, excelência e grandeza no Brasil e no mundo.
Migrantes por Marco Aurélio Machado de Oliveira, professor da UFMS e poeta
“De quantos mediterrâneos são feitos nossos mundos? Alguns gigantescos, ganham força e voz nas notícias de jornais. Outros tão minúsculos que só cabem nas pegadas que deixam em nossas frentes. Uns visíveis, geram comoções e empáticas manifestações. Outros tão pálidos, que apenas os abandonos verbais podem alcança-los.
E o espetáculo Migrantes da Companhia de dança do Pantanal leva a refletir sobre quantas lutas épicas ou inglórias, calculadas ou precipitadas no seu fim, são feitos nossos gestos de acolhimento. Algumas registradas, comentadas, prometidas e esquecidas. Outras, cuja luminosidade atinge a quem interessa, sequer são sabidas.
E, entre tantas coisas, há um tempo que salva, o da arte. Assim me ensinou Manoel de Barros. E diferente do olhar poético para um firmamento prestes a desaparecer, ou de uma canção predestinada em tantas esquinas, a migração e a arte não têm finais. E, falando em finais, quantas fronteiras eles devem passar e sonhos têm que ser deixados ao lado dos naufrágios diariamente enfrentados? Quantos vigores devem ser testados sob a malha fria da indiferença? Quantos modos de namorar ou amar, rituais de milagres que lembram seus avós, idiomas, cores de pele e registros de passaporte precisam ser tatuados nas decisões de aceita-los ou não?
Nesse enredo, tão forte e composto de riscos de faltas de vidas e políticas, a arte traz memórias, que não encerram em mim, tampouco em vós. O Moinho Cultural nos reaviva uma curva esperançosa. E disso não podemos abrir mão. Assim como os migrantes, a arte nos impõe sentidos, deixando a ideia de repetição incontida como ela realmente é: sem valor”.