Por: Ricardo Viveiros
A história é útil à evolução da sociedade. Assimilar técnicas atende ao capitalismo, por isso é valorizada. Entretanto, a emancipação humana requer mais do que acúmulo de riqueza. Boa saúde, educação, cultura, ética, respeito são bens que superam muitas coisas. Qualquer pensamento político que não privilegie as pessoas e a vida delas está no caminho errado. Tem sido assim com regimes autoritários, como nazismo; fascismo; franquismo (nazifascista); salazarismo e outros.
Comum aos governos opressores está a sustentação política de partidos da direita. Observa-se, além das ditaduras do Oriente Médio – de fundamentação religiosa –, na Europa, na África, nos Estados Unidos e, também, na América do Sul, que a direita tem cooptado a população. A desigualdade crescente impulsiona uma revolta que aproxima o povo, com ênfase nos menos politizados, de promessas populistas. Persiste um vácuo deixado pela esquerda mundial que não consegue se comunicar como a direita, que se vale de fake news. No Brasil, em 2018 e nos quatro anos seguintes, assim como na Ópera dos três vinténs, de Bertold Brecht e Kurt Weill, a democracia esteve frágil pela miséria e pela corrupção. Desalentados agarraram-se a bizarros discursos eivados de ódio e mentiras, e elegeram um radical prepotente que (des)governou o País.
A triste receita da aceitação tem sido próspera aos políticos de direita. Um exemplo é Donald Trump, que aumenta sua popularidade na mesma proporção de seu ódio aos estrangeiros e de suas condenações nos tribunais. Se as eleições fossem hoje, seria eleito e aumentaria a cultura etnocentrista. A invasão ao Capitólio, em 6/1/2021, foi a mais esdrúxula manifestação de tentativa de golpe na denominada maior democracia do planeta. Um incentivo para que, no Brasil, em 8/1/2023, houvesse a reedição tropical de tentativa de Golpe de Estado. As duas ações marcadas pela dissonância cognitiva dos envolvidos e pela força das instituições que contiveram, investigaram e puniram os vândalos. E hoje combatem injustificadas tentativas de anistia.
Depois da desonra mundial que o nazismo trouxe à Alemanha, a Europa transitou entre a hegemonia dos grupos de centro e flertes com a esquerda. A atual aproximação da ultradireita é fato. Os resultados nas eleições europeias consolidam a liderança do centro. Mas a ultradireita terá destaque em países que, historicamente, ditam a política do continente como França e Alemanha. Brasileiros que moram no exterior atenção: a xenofobia é ameaça crescente aos imigrantes, sobretudo a pretos, pardos e indígenas. Até no berço do Iluminismo, o respeito se tornou artigo de luxo.
Como disse o filósofo Noberto Bobbio, o domínio da violência é a principal característica da existência dos estados e, por consequência, o mais efetivo poder. A direita utiliza esse poder sem limite. Perigoso. Intolerantes que administram as nações têm uma fórmula de governo que sempre deixa a fúria como opção viável. A guerra não é avanço, falta de humanidade é atraso civilizatório. A ignorância e a má-fé da ultradireita no trato com pautas sociais são apenas uma das faces da política reacionária. A preservação do planeta, a tolerância com as pessoas, o combate aos preconceitos e a visão emancipatória do humano inexistem.
A ultradireita, além de perigosa e inútil, é deselegante.
*Ricardo Viveiros, jornalista, professor e escritor, é doutor em Educação, Arte e História da Cultura; autor, entre outros, de A vila que descobriu o Brasil; Justiça seja feita e Memórias de um tempo obscuro.