Você já ouviu falar em etnoturismo? O nome pode soar como novo para alguns. Mas, na prática, ela já é uma realidade em alguns estados, a exemplo de Roraima, na aldeia Raposa Serra do Sol que estimula o turismo em terras indígenas, ou seja, o etnoturismo também chamado de turismo de base comunitária. Tal prática tem gerado tanto sucesso por lá, que motivou um intercâmbio no Mato Grosso do Sul que reuniu indígenas Kadiwéu com Enoque Raposo, da etnia Macuxi, uma das principais lideranças dessa comunidade indígena roraimense.
As reuniões aconteceram nos dias 20 e 21 de maio, dentro do Território Indígena (TI) Kadiwéu, situado na cidade de Porto Murtinho. “Tive a possibilidade de conversar com meus parentes [irmãos indígenas] e conhecer um pouco das riquezas naturais e também da cerâmica Kadiwéu, famosa mundo afora. Sem dúvida, foi uma grande oportunidade de troca que é fruto do interesse dos povos originários e, também, das parcerias firmadas com a Wetlands International Brasil, a Mupan [Mulheres em Ação no Pantanal] e o Programa Bem Viver, de Roraima, que têm estimulado essa comunicação entre nossas comunidades”, enfatiza Enoque Raposo.
Para aqueles que receberam a visita do indígena Macuxi, o momento foi de grande imersão tanto para entender o porquê do sucesso em etnoturismo na Raposa Serra do Sol como para se pensar em fazer algo semelhante no TI Kadiwéu. Território, atualmente, composto por seis aldeias, aproximadamente 1.200 moradores e uma área de 538 mil hectares.
“Eu acredito na possibilidade de, ao mesmo tempo, gerar renda e respeitar a natureza. O TI Kadiwéu é muito lindo, temos o Cerrado e o Pantanal em um só lugar. Acredito que a gente pode estimular o desenvolvimento sem agredir o nosso bem maior que é a terra. Conversar com o Enoque foi essencial porque mostrou que não se trata de um sonho, é algo real, tem parente fazendo isso em outro território indígena”, argumenta Gilberto Pires, Kadiwéu que reside na aldeia Alves de Barros.
Agora, a ideia é fazer do etnoturismo uma realidade dentro do TI Kadiwéu. Algo que nas palestras de Enoque Raposo foi apontado viável desde que haja organização e muito trabalho por parte dos indígenas que vivem nas seis aldeias (São João, Alves de Barros, Tomázia, Barro Preto, Campina e Córrego do Ouro) que formam o território.
“Da escrita do projeto até a prática do turismo de base comunitária tem um longo trabalho. Mas, a ideia, aqui, foi justamente apresentar um pouco do caminho que percorremos para fazer do etnoturismo uma realidade. Hoje, somos referência no Estado de Roraima e também no Brasil. Acredito que o Povo Kadiwéu tem tudo para dar certo”, avalia Enoque.
Tão certo que novas oportunidades têm surgido, como o convite para um workshop com as mulheres indígenas em Roraima. “Fui convidado pela Mupan e pela Wetlands International a vir até o Território Kadiwéu. Palestrei em um evento de Bonito e após essa agenda, vim conhecer os parentes. Agora, queremos levar as mulheres Kadiwéu, com o conhecimento em cerâmica e artesanato, para conhecerem a técnica das nossas indígenas com as panelas de barro, uma arte prestigiada de nossa comunidade”, conta Enoque.
Buscar fortalecer a economia dos povos originários a partir da ‘assimetria do bem’, ou seja, aproveitar os pontos fortes de cada etnia para proporcionar a troca de conhecimento e o fortalecimento da identidade e das potencialidades indígenas, como assim explica Reinaldo Lourival, coordenador do Programa Bem Viver pela Nature and Culture International.
“Os Kadiwéu têm um trabalho de muitos anos já com a pecuária em um viés sustentável e os indígenas de Roraima têm esse ponto alto do turismo. O que a gente faz é facilitar essa conversa entre os parentes, povos indígenas, ou seja, encurtar o caminho dessa troca. E, como conheço o trabalho da Wetlands International e da Mupan porque atuei no Pantanal, a interlocução fica ainda melhor”, pontua Reinaldo.
Todo o intercâmbio entre Macuxi e Kadiwéu foi acompanhado pelos geógrafos e colaboradores da Wetlands International Brasil e Mupan, Lilian Ribeiro e Pedro Cristofori, que atuam frente às demandas dos Kadiwéu dentro do Programa Corredor Azul (PCA).
“Temos o eixo de trabalho denominado ‘Plano de Vida’, no PCA, com o objetivo de fomentar o desenvolvimento social e ecológico para criar resiliência à natureza e o empoderamento das comunidades tradicionais como é o caso dos Kadiwéu. E, desde 2017, fomos convidados pelos próprios indígenas a formar essa parceria que tem dado muito certo”, explica Lilian Ribeiro, coordenadora de Assuntos Indígenas e Comunidades Tradicionais do Programa Corredor Azul, da Wetlands International Brasil.
Assessoria.