No último dia 31 de julho, as equipes técnicas do Hospital Cassems de Campo Grande receberam a coordenadora estadual da Central de Transplante de Mato Grosso do Sul (CET/MS), Claire Carmem Miozzo, para falar sobre transplante e doação de órgãos. A coordenadora explicou como funciona o processo, desde o acolhimento dos familiares até a captação e doação dos órgãos.
Algumas pessoas têm anotado em suas carteiras de identidade a opção de ser doador de órgãos, porém, de acordo com a legislação brasileira, apenas os familiares podem decidir sobre a doação ou não de órgãos do ente falecido. Por isso, é muito importante para quem quer ser um doador deixar explícita a sua vontade em vida. De acordo com dados da CET/MS, 171 pacientes esperam por transplante de rim e 406 de córneas em Mato Grosso do Sul, e as doações estão aquém da demanda esperada. Para a coordenadora do CET/MS, é muito importante que os hospitais parceiros cooperem em todas as fases do processo de doação de órgãos.
“Nós precisamos ter uma grande rede de solidariedade para que a gente consiga atender os nossos pacientes no estado, que precisam realizar transplante. O Hospital Cassems por si só é acolhedor em relação às famílias, independente da doação ou não, mas a gente precisa que o hospital vista a camisa da doação, que ele vista a camisa do transplante e, para isso, a gente precisa da educação continuada, que todos os colaboradores entendam esse processo”, pontua.
Claire também salienta a necessidade de os profissionais de saúde dos hospitais saibam como funciona o processo, desde o acolhimento da família do possível doador até a doação em si.
“O Hospital Cassems de Campo Grande é um hospital transplantador de medula óssea, é nosso parceiro e já tivemos várias doações aqui dentro. Então, é muito importante que a gente converse com os profissionais da área da saúde para que eles entendam todo o processo. Desde o momento em que eles chegam ao hospital, a forma como ele vai ser acolhido, a forma como é feito o diagnóstico e, também, a forma como a gente, na hora da entrevista, conseguir que essa família faça a doação dos órgãos. Nós temos pessoas aguardando, temos equipe, temos estabelecimentos autorizados e nós precisamos de órgãos para fazer os transplantes”, afirma.
O diretor administrativo do Hospital Cassems de Campo Grande, Alessandro Depieri, destaca que, como a unidade hospitalar da Caixa dos Servidores da capital é transplantadora de medula óssea, é necessário que os colaboradores de todos os setores se envolvam e conheçam o processo.
“É importante que o hospital todo seja a comissão interna de doação de órgãos e tecidos, e não somente a comissão que existe, criada no hospital especificamente para isso. Na verdade, o hospital precisa viver isso, ainda mais como um hospital transplantador, porque nós somos um hospital que realiza transplante de medula óssea. Então, nós precisamos ter essa consciência, que o processo de doação de órgãos, que o processo de transplante inicia desde a chegada do paciente ao hospital até o eventual óbito, com o envolvimento de todos os seus familiares. É uma causa muito importante que o hospital tem o prazer de se envolver e instruir os colaboradores para que esse processo aconteça da melhor forma possível”, explica.
Mato Grosso do Sul realiza transplante de córnea, em Campo Grande e Dourados, rim e de tecido músculo-esquelético, incluindo medula óssea, apenas na capital. Transplantes de órgãos e tecidos que o estado não realiza são encaminhados para locais onde são realizados esses tipos de procedimentos. Em 2024, Mato Grosso do Sul realizou 139 transplantes de córnea e 22 transplantes renais, também foi realizado um transplante de coração. A vice-presidente da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos Para Transplante (CIHDOTT) do Hospital Cassems de Campo Grande, Brendiane Moura, reforça que esse número está abaixo do esperado e poderia ser maior caso houvesse mais doações.
“As estatísticas que a Claire apresentou na sua palestra mostram que nós estamos com uma demanda de doação baixa. Então, o intuito deste encontro é trazer conhecimento sobre o assunto para que os supervisores tenham esse entendimento sobre a importância de doar órgãos e de salvar vidas. O nosso hospital é um hospital transplantador e a ideia é de que nós também sejamos captadores de órgãos”, avalia.
Para a supervisora de Enfermagem, Alice de Cássia, “essa palestra é de suma importância para trazer conhecimento à nossa equipe, porque vai facilitar a abordagem às famílias e trazer doações para o nosso hospital. Então, é de fundamental importância esse tipo de palestra para esclarecer dúvidas e que a gente possa trazer benefícios e conhecimento aos colaboradores e às famílias dos pacientes”.
Segundo a coordenadora médica do CIHDOTT do Hospital Cassems de Campo Grande, Ana Alvarenga, é de suma importância acontecer esse tipo de reciclagem das equipes para, assim, aumentarmos o número de doações.
“A doação de órgãos é de suma importância e eu costumo dizer que todas as pessoas deveriam estar aptas a pensar sobre isso e buscar doadores. Então, é muito importante que tenha esses eventos de reciclagem para que toda equipe saiba primeiramente da importância de que o protocolo seja feito de forma correta e de que a condução dessas famílias seja feita de uma maneira empática para que consiga aumentar o número de doadores. A ideia principal do evento é fazer com que cada colaborador da Cassems saiba da sua importância nesse processo e tenha uma atitude proativa para o diagnóstico de morte encefálica e ajude nessas captações de doações”, esclarece.
Como funciona a doação de órgãos
O Sistema Único de Saúde (SUS) tem o maior programa público de transplante do mundo, onde, aproximadamente, 87% dos transplantes de órgãos são feitos com recursos públicos. Toda a estrutura é gerenciada pelo Ministério da Saúde, garantindo que cirurgias de alta complexidade sejam realizadas em pacientes da rede pública e privada, em situação de igualdade.
Baseada em critérios técnicos, a lista de espera segue a ordem de pacientes a serem transplantados levando em consideração a tipagem sanguínea, compatibilidade de peso e altura, compatibilidade genética e critérios de gravidade distintos para cada órgão.
No caso do cumprimento de forma semelhante pelos pacientes, a ordem cronológica de cadastro, ou seja, a ordem de chegada, funciona como desempate. Pacientes em estado crítico são atendidos com prioridade, em razão de sua condição clínica.
Como ser doador
De acordo com o Ministério da Saúde, os doadores são divididos em dois grupos: vivo e falecido. O doador vivo pode ser qualquer pessoa que concorde com a doação, desde que não prejudique a sua própria saúde. Ele pode doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea ou parte do pulmão. Pela lei, parentes até o quarto grau e cônjuges podem ser doadores e não parentes, só serão doadores com autorização judicial.
Já o doador falecido é aquele paciente com diagnóstico de morte encefálica, geralmente vítimas de catástrofes cerebrais, como traumatismo craniano ou AVC (derrame cerebral). Os órgãos doados vão para pacientes que necessitam de um transplante e estão aguardando em lista única, definida pela Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada estado, e controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes.
Para que uma pessoa se torne doadora de órgãos, ele precisa deixar clara essa vontade para a sua família, porque, no Brasil, a doação de órgãos só será feita após a autorização familiar.
Serviço: A Central Estadual de Transplante atende 24h por dia pelos telefones (67) 3312-1400 / 3321-8877.