As provocações golpistas de Jair Bolsonaro e do núcleo militar que lhe dá sustentação colocam um desafio para brasileiros e brasileiras — preservar o regime democrático e garantir a constituição de um novo governo, em eleições livres, realizadas conforme as regras definidas pela legislação em vigor.
A experiência histórica ajuda a entender a tarefa que se coloca no aqui e agora. Em 1968, durante o regime militar, os adversários da ditadura foram às ruas do Rio de Janeiro — ainda o centro político do país — num protesto gigantesco, que entrou para a história como a Marcha dos 100 000.
A mobilização uniu entidades estudantis e sindicatos de trabalhadores, artistas de prestígio e lideranças de vários setores médios, contando com a simpatia aberta de uma parcela da imprensa que havia apoiado o golpe de 64.
Foi o pior momento do regime militar em sua primeira fase — aquela que antecedeu o decreto do AI-5, que institucionalizou a censura e liberou a tortura.
Meio século depois, o protesto de 24 de julho de 2021 deve ser visto num momento de definição histórica.
Trata-se de uma resposta a um governo que prepara seu próprio AI-5, através de uma manobra suja para tentar deslegitimar a eleição de outubro de 2022, que lhe reserva uma derrota líquida e certa.
Como a história universal nos ensina, impasses dessa natureza só podem ser confrontados pela mobilização popular, em defesa de projetos e valores que expressam as necessidades da maioria.
Há 53 anos, na Marcha dos 100 mil, o mundo vivia tempos de Guerra Fria, quando o alinhamento automático com Washington assegurava à ditadura militar uma sustentação irrestrita por parte das potencias imperialistas. O golpe de Estado já fora consumado, quatro anos antes. Os generais davam os primeiros passos para institucionalizar um Estado de exceção.
Meio século depois, a realidade contem semelhanças mas também registra diferenças. O calendário político prevê eleições dentro de 16 meses — para presidente, governadores, senadores e deputados.
Abalada e ferida, a Constituição de 1988 continua em vigor. O Supremo começa a ser ocupado por ministros dóceis ao Planalto, mas nenhuma vaga foi aberta pela cassação de juízes independentes.
Se a Câmara de Deputados tem reservado águas tranquilas para Bolsonaro, coube ao Senado dar origem a uma CPI que colocou o Planalto nas cordas, revelando a trama oculta que ajudou a produzir 530 000 mortos na pandemia.
Colocando a situação com simplicidade e clareza. Transformando o 24 de julho num dos grandes protestos políticos de nossa história, será possível derrotar a ditadura antes que seja instituída.
Fonte: Brasil 247.