“Sentia dores tão fortes no meu abdômen, antes e após a menstruação, que muitas vezes, fui parar no hospital. Só descobri o diagnóstico dois anos depois.” Tayane Mafra, que passou por cirurgia há 21 dias.
“Conviver com tanta dor e não saber o motivo é a parte mais difícil. A mulher, que tem cólica intensa, precisa desconfiar e pedir ajuda. No meu caso, a doença já havia atingido outros órgãos, como intestino e trompas.” Patrícia Malheiro.
Tayane Mafra e Patrícia Malheiro estão entre as seis milhões de mulheres com endometriose no Brasil.
A doença ginecológica, caracterizada pelo crescimento do endométrio, tecido que reveste a parte interna do útero, fora da cavidade uterina, em locais como as trompas, ovários, intestinos, reto e bexiga, é comum em mulheres em idade reprodutiva.
Estima-se que uma a cada dez mulheres terão a doença. Muitas delas, passarão anos convivendo com a dores intensas, até receberem o diagnóstico, que além de comprometer a qualidade de vida da paciente, também pode provocar infertilidade.
Para levar informação sobre a saúde da mulher, o laboratório Fertliv participa do Movendo, um movimento nacional, com diversas forças, eventos e debates sobre o tema, para propagar a conscientização da endometriose, seus sintomas e tratamentos. A ação reforça as atividades do Março amarelo, mês dedicado a conscientização sobre a doença.
O médico ginecologista e especialista em reprodução assistida da Fertliv, Vitor Kussumoto, explica que o principal desafio é o diagnóstico tardio.
“Como é comum que a mulher tenha cólica no período menstrual, às vezes o diagnóstico demora demais. Estudos mostram que pacientes chegam a ficar até nove anos sentindo dores intensas e incapacitantes”, alerta o médico.
Principais sintomas da endometriose:
Cólica muito intensa no período menstrual;⠀
Dismenorreia: Dor pélvica, que aumenta de intensidade e pode incapacitar a mulher de exercer suas atividades habituais;
Diarreia ou dor para evacuar ou urinar, durante o período menstrual;
Dor durante as relações sexuais
Distensão e estufamento abdominal;⠀
Infertilidade, independentemente de sintomas dolorosos.
Endometriose e infertilidade
A endometriose é a principal causa de infertilidade feminina. Quando o endométrio começa a crescer em locais como tubas e ovário, há inflamação e um processo espontâneo de cicatrização, o que acaba gerando mudanças anatômicas que impedem o pleno funcionamento das tubas, responsáveis pelos primeiros acontecimentos da fecundação. Além disso, as células inflamatórias podem afetar a qualidade do óvulo e do espermatozoide.
Tipos de endometriose:
A médica ginecologista e especialista em reprodução assistida, Suely Resende, conta que existem três tipos de endometriose:
Peritoneal: Os focos da doença estão localizados apenas no peritônio e as lesões ainda são rasas e planas;
Ovariana: Geralmente se formam endometriomas, um tipo de cisto ovariano composto por tecido endometrial e sangue, além de aderências isoladas e menos densas;
Profunda: Nesse tipo de endometriose, os implantes já invadiram diversas regiões ao mesmo tempo e, além de muitos, são mais profundos.
“Mulheres com endometriose infiltrativa normalmente também possuem os outros dois tipos. Ou seja, lesões mais rasas e endometriomas”, orienta a especialista.
Há cura para a endometriose?
“Não há cura definitiva para a endometriose, mas existem tratamentos que podem melhorar a qualidade de vida da mulher, prevenir a eventual progressão da doença e preservar a sua fertilidade. A cirurgia é mais indicada para pacientes com endometriose mais avançada, que em muitos casos leva a dores pélvica intensas e limitantes, impactando negativamente na qualidade de vida da mulher. Em casos selecionados, a cirurgia também pode ser indicada para o tratamento da infertilidade. Para o tratamento da infertilidade podemos utilizar as técnicas de reprodução assistida de baixa e alta complexidade , de acordo com a avaliação individualizada de cada casal,” explica o médico ginecologista e especialista em reprodução assistida, Antônio Miziara.
Diagnóstico:
Segundo médico ginecologista e especialista em reprodução assistida, Thiago Souza, além dos exames durante as consultas de rotina, o diagnóstico pode ser feito através da descrição dos sintomas relatados pelas pacientes e de alguns exames.
“Ultrassom Transvaginal com preparo intestinal, também chamado de mapeamento para endometriose e a Ressonância Magnética de pelve, com protocolo para endometriose são os principais. É importante reforçar que
o diagnóstico ou não da doença é de caráter clínico. Não existem exames de sangue confiáveis para afirmar ou excluir que a paciente tenha ou não endometriose”, explica o médico.
Depoimento de Pacientes
Eliane Eurides Serafini, tem 31 anos e desde os 14, sente dores de moderadas a severas, por causa da endometriose peritoneal. O diagnóstico só foi fechado em 2014, desde então, passou por quatro cirurgias e se prepara para um novo procedimento em 2022.
“É um grande mito relacionar a endometriose apenas com a menstruação, ou ainda, achar que as cólicas menstruais são normais. Enquanto a endometriose não for levada a sério, muitas mulheres vão sofrer. O que me tranquiliza é que mesmo com a doença, consegui gerar meu filho, que hoje tem cinco anos,” conta a empresária.
Kelly Boniatti descobriu a endometriose quando enfrentou dificuldades para engravidar. No caso dela, as dores só cessaram após uma cirurgia de videolaparoscopia.
“ É importante estar sempre atento. Desconfie, mesmo se seu médico disser que você não tem nada. Hoje, tenho dois filhos e sou grata por ter descoberto o que eu tinha, ser tratada e por ter uma qualidade de vida. Não deixe de buscar ajuda,” diz a contabilista.
“Hoje faz 21 dias da cirurgia e estou me sentindo super bem. Agora, é aguardar para tentar engravidar, sem dores.” Tayane Mafra.
“ Fiz a cirurgia em novembro de 2018 e hoje, a doença está estável. Tenho 33 anos e estou tentando engravidar, Patrícia Malheiro.
“Minha última cirurgia para endometriose foi em 2020. Precisei retirar um dos ovários e uma trompa. Por sorte, havia feito um procedimento de fertilização in vitro e congelei meus embriões, antes disso. Depois de 10 anos tentando engravidar, estou extremamente feliz, com meu filho nos braços, mas ainda convivo com as dores, agora, controladas com medicações”, Amanda Murad.
Assessoria.