De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o paciente faz uso racional e correto de medicamentos, quando estes são recebidos para suas condições clínicas em doses adequadas às suas necessidades individuais, por um período adequado e ao menor custo para si e para a comunidade. Eles devem ser prescritos por profissional habilitado incluindo o farmacêutico, conforme permitido pela legislação.
No último relatório publicado pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), ficou evidenciado que em 2017 aproximadamente 25% dos casos de intoxicação foram provocados por medicamentos, sendo mais prevalente em crianças de 1 a 4 anos. Essas intoxicações por vezes podem ser fatais, sendo que de acordo com o relatório, nesse período houve o registro de mais de 50 óbitos provocados por intoxicação por medicamentos.
Os dados apresentados refletem apenas ao que foi notificado aos centros de controle de intoxicações, deixando uma grande lacuna entre as informações passadas e o número real de complicações causadas pelo uso irracional de medicamentos. Sabemos que esses números são bem maiores do que foi apresentado no relatório, pois grande parte da população não sabe da importância de notificar reações adversas a algumas fórmulas e alguns profissionais não estão preparados para enfrentar este problema de automedicação irresponsável.
O uso irracional ou inadequado de remédios é um grave problema que atravessa fronteiras, deixando várias nações em estado de alerta. A OMS estima que mais da metade de todos os medicamentos são prescritos, dispensados ou vendidos de forma inadequada, e que aproximadamente 50% de todos os pacientes não os utilizam corretamente.
Quem comete esse erro na maioria das vezes: utiliza cinco ou mais medicamentos por paciente (“polifarmácia”), uso inadequado de antimicrobianos, muitas vezes em dosagem inadequada e para infecções não bacterianas. Além da falta de prescrição de acordo com as diretrizes clínicas, não aderência aos regimes de dosagem, o consumo inadequado de classes farmacológicas, uso concomitante de vários fármacos sem critérios técnicos e múltiplas prescrições por falta de informações passadas ao prescritor. Diante da necessidade do consumo criterioso de medicamentos, o farmacêutico se transforma em elemento chave para colaborar com o uso racional.
Apesar do farmacêutico ser visto como conselheiro em relação aos cuidados de saúde, sendo o último profissional que a maioria dos pacientes terá contato antes do início do uso de seus medicação, além de ser uma figura importante na dispensação de fármacos ao paciente, essa atividade vem sendo intervinda por intensas mudanças atualmente. Especialmente no que tange ao fácil acesso a informações via internet, redes sociais, blogs, amigos e vizinhos que indicam e orientam uso de remédios de forma indiscriminada.
É importante que a população saiba que o farmacêutico está preparado para orientar sobre medidas farmacológicas e não farmacológicas que podem auxiliar na cura ou melhor prognóstico de doenças.
Além disso, o farmacêutico orienta sobre a busca de cuidados médicos e/ou cirurgião-dentista (odontólogo), sobre os cuidados ao adquirir, utilizar, armazenar e fazer o descarte de forma correta dos medicamentos vencidos ou que não estão sendo utilizados, além de outras informações para melhorar ainda mais a qualidade de vida do paciente. Dúvidas sobre o uso e descarte correto daquele xarope, comprido e pomadas que já passaram da validade? Fale sempre com o farmacêutico!
Álvaro Paulo Souza, docente da Estácio e mestre em Ciências Biológicas.