Por: Wilson Aquino*
Em nosso contínuo desejo de crescer, progredir e prosperar em aspectos materiais, emocionais e espirituais, é fundamental manter uma consciência tranquila e equilibrada. Devemos aspirar ao desenvolvimento sem permitir que essa busca seja cega e desenfreada ao ponto de focarmos exclusivamente no futuro, negligenciando o valor do presente, o agora, que é, inquestionavelmente, mais significativo que o amanhã.
Muitas vezes, ouvimos homens e mulheres condicionarem sua felicidade a metas futuras: “serei feliz quando me casar”, “quando terminar minha faculdade”, “quando conseguir minha casa própria”, “quando tiver um salário melhor”. Esse tipo de pensamento subestima a capacidade de encontrarmos alegria e contentamento no momento atual. Enganam-se profundamente aqueles que acreditam que apenas eventos futuros trarão melhorias em suas vidas, perdendo assim a riqueza de viver cada momento com alegria e gratidão, mesmo diante dos desafios que todos, sem exceção, enfrentam.
Albert Einstein, numa demonstração de sabedoria, escreveu em um bilhete entregue a um camareiro, em substituição a uma gorjeta que não pôde dar no momento: “Uma vida calma e modesta trará mais felicidade do que a busca constante por sucesso e o desassossego que acompanha essa busca”. Esse pensamento ecoa a importância de valorizarmos o que temos e onde estamos, sem a constante agitação por mais e mais.
Em minha própria experiência, observei que minha esposa levou algum tempo para compreender que a reforma de parte de nossa casa não era um pré-requisito para sua felicidade no lar. Ela percebeu que, apesar de haver ainda o que fazer, já havíamos alcançado significativos avanços materiais, o que a ajudou a reavaliar e mudar certos conceitos.
Em uma madrugada no hospital, um amigo, ao lado de seu pai que estava internado devido a graves problemas de saúde, o incentivou a pedir perdão à sua mãe, de quem o pai havia se divorciado muitos anos antes, após um longo período de maus-tratos. Inicialmente, o pai resistiu, dizendo que planejava fazer isso em breve, com a família toda reunida. No entanto, inspirado espiritualmente, o filho o convenceu de que o momento certo era ‘agora’, pois nunca sabemos sobre o dia de amanhã. O pai concordou e, em meio a lágrimas, gravou um áudio pedindo perdão a todos e especialmente à ex-esposa. Sentiu como se um grande peso fosse retirado de suas costas. Dois dias depois, ele faleceu.
Infelizmente, muitas pessoas deixam de aproveitar momentos valiosos com cônjuges, filhos, amigos, parentes e até no ambiente de trabalho por estarem mentalmente ausentes, mesmo quando fisicamente presentes. Quantos pais conversam com os filhos como se estivessem em transe, olhando em seus olhos, mas sem realmente vê-los, ou falam sem realmente ouvir? O mesmo se aplica a muitos relacionamentos conjugais, onde a “presença ausente” pode criar distâncias que potencialmente levam a traumas, divórcios e mal-entendidos.
As palavras de David O. McKay, membro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, são particularmente pertinentes aqui: “Nenhum sucesso na vida compensa o fracasso no lar”. A felicidade e a satisfação verdadeiras são encontradas não em realizações futuras, mas na plena apreciação e vivência do presente. Assim, enquanto buscamos evoluir, nunca devemos esquecer de valorizar e desfrutar do agora, que é mais importante que qualquer passado ou futuro.
A Bíblia oferece numerosas reflexões sobre a importância de viver o momento presente com sabedoria e gratidão. No Livro de Eclesiastes (3:1-8), por exemplo, encontramos uma perspectiva profunda sobre a efemeridade da vida e a importância de aproveitar o momento presente: “Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu”. Este trecho ressalta que cada momento da vida tem seu propósito e valor, encorajando-nos a reconhecer e abraçar as diferentes estações da vida, encontrando significado e alegria no agora, independentemente das circunstâncias.
Jesus Cristo também ensinou sobre a importância de não se preocupar excessivamente com o futuro, mas sim de confiar na providência divina. Em Mateus 6:34, Ele aconselha: “Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã trará os seus cuidados; basta ao dia o seu próprio mal.” Essas palavras incentivam os fiéis a viverem um dia de cada vez, confiando que Deus proverá o necessário e que a preocupação excessiva pelo futuro pode nos impedir de experimentar a plenitude do presente.
A carta de Paulo aos Filipenses (4:8) também contém uma poderosa mensagem sobre a alegria e a paz que vem de viver no momento presente, com foco naquilo que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável e de boa fama. Paulo encoraja os cristãos a se concentrarem nessas virtudes, o que pode transformar a maneira como vivemos cada dia. Ao fazermos isso, podemos encontrar a paz de Deus, que “excede todo o entendimento” e que guardará nossos corações e mentes em Jesus Cristo, permitindo-nos viver plenamente cada momento que nos é dado.
Em suma, as lições extraídas tanto das escrituras sagradas quanto das reflexões filosóficas contemporâneas convergem para um entendimento crucial: não devemos deixar que as preocupações com o amanhã nos privem das alegrias e das oportunidades que o hoje oferece. Viver plenamente o presente é um ato de fé e sabedoria, reconhecendo que cada momento carrega sua própria beleza e propósito, independente dos desafios que possam surgir. Ao abraçarmos o agora com gratidão e consciência, enriquecemos nossa experiência de vida e fortalecemos nosso espírito para qualquer futuro que nos aguarde.
*Jornalista e Professor