O presidente Jair Bolsonaro (PL) chegou para votar por volta das 9 horas da manhã no Rio de Janeiro dizendo que vai vencer no primeiro turno. Perguntado na chegada e na saída da seção eleitoral se vai reconhecer o resultado, não respondeu de maneira direta.
Ele voltou a falar que respeita a apuração se as eleições forem limpas e insistiu no “datapovo” —narrativa de que tem apoio popular e sofre boicote dos institutos de pesquisas. “O que vale é o datapovo, e [reconheço] eleições limpas sem problemas nenhum”.
Repetindo discurso dúbio. Na primeira vez que falou com a imprensa, na chegada à Escola Municipal Rosa da Fonseca, no bairro Deodoro, Bolsonaro deixou a entrevista quando perguntado se respeitaria o resultado das eleições. Depois de votar, ele voltou a conversar com os repórteres.
O presidente insistiu que percorreu o Brasil inteiro durante a campanha e foi muito bem recebido. Declarou que a motociata ontem em Joinville (SC), último ato de campanha, foi histórica e que a imprensa não noticia esses fatos. Essas frases eram uma preparação da narrativa de que tem apoio popular e as pesquisas e os meios de comunicação não refletem essa suposta realidade.
“Tanta gente nas ruas nos apoiando. Infelizmente não vi na imprensa, mas tudo bem, faz parte da regra do jogo.”
Em campanha contra as urnas. Na sequência, Bolsonaro insistiu no “datapovo” e que respeita o resultado apenas se as eleições forem limpas. A afirmação faz parte da narrativa repetida há anos de que o sistema eleitoral brasileiro não é confiável. Bolsonaro tentou aprovar no Congresso o voto impresso com o argumento de que a urna eletrônica é vulnerável.
Em vários momentos da campanha e antes dela, ele criticou o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e seus ministros. O esforço de desacreditar o sistema eleitoral sempre esteve acompanhado de declarações de Bolsonaro de que a apuração de hoje pode ser fraudada. Nesta semana, o partido do presidente divulgou um documento com essas insinuações.
Bolsonaro chegou a sugerir que as Forças Armadas deveriam fiscalizar as eleições. Em momento nenhum, o presidente afirmou que o sistema eleitoral organiza uma corrida eleitoral com total lisura. Irritação com jornalista argentino.
O Datafolha e o Ipec de ontem mostraram que existe a possibilidade de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencer a eleição no primeiro turno. O jornalista Diego Iglesias, da emissora C5N da Argentina, perguntou se Bolsonaro reconheceria uma vitória do adversário. O presidente virou a cara e escolheu outro ponto da grade que o separava dos jornalistas para falar com a imprensa. Quando o cinegrafista Mariano Perrino recebeu o microfone do colega para gravar a entrevista, Bolsonaro atalhou: “Ô cara, vai falar do teu país”.
Eleição acaba hoje? O Datafolha e o Ipec divulgados ontem mantiveram a possibilidade de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencer a disputa no primeiro turno. Mas dentro da campanha de Bolsonaro esta possibilidade é refutada. O chamado núcleo ideológico não admite qualquer possibilidade de derrota hoje e acredita que as pesquisas são enganosas. O núcleo político tem entendimento de que candidatos com menor intenção de votos como Soraya Thronicke (União) e Simone Tebet (MDB) foram bem no debate da Globo. O raciocínio é que o desempenho impedirá que elas percam votos e, assim, serão necessários mais eleitores escolhendo Lula. Esta dinâmica dificultaria que a corrida presidencial acabasse hoje.
Forte interesse da imprensa e eleitores. A área reservada para a imprensa cobrir a votação de Bolsonaro estava lotada de jornalistas brasileiros e estrangeiros. Espanhol, francês e inglês eram ouvidos com frequência no local. A possibilidade de ver o presidente animou as pessoas que estavam na fila para votar na mesma seção eleitoral que o candidato. Alguns usavam verde e amarelo, mas tiveram suas intenções de se aproximar de Bolsonaro frustradas. O Gabinete de Segurança Institucional não permitiu acesso dos eleitores.
Voto em área militar. O presidente informou que iria até a seção eleitoral por volta das 9h30, mas chegou 45 minutos antes à Escola Municipal Roda da Fonseca.
O colégio fica na Vila Militar no bairro Deodoro. Trata-se de um lugar em que funcionam várias academias do Exército Brasileiro. Para chegar ao local, os motoristas precisavam passar por uma barreira militar. Não era preciso descer do carro e passar por revista, mas cada carro parava em frente a uma coluna de cones e era observado com atenção por soldados.
Fonte: UOL Eleições.