Mais do que produto final, o consumidor do presente também está preocupado com o processo de fabricação e a relação equilibrada com o meio ambiente. Diante das mudanças, a indústria precisou repensar a produção e fazer da ciência aliada desta transformação. O Instituto Senai de Inovação em Biomassa (ISI Biomassa), em Três Lagoas, tornou centrais os projetos de descarbonização para repensar etapas, tornando os negócios sustentáveis.
A imagem da chaminé soltando fumaça marcou a indústria durante muitos anos, mas até este símbolo não deve funcionar mais da mesma forma. Quem acompanha o trabalho minucioso e complexo desenvolvido nos laboratórios do ISI Biomassa pode ter dificuldade de imaginar como cada um daqueles experimentos podem revolucionar diferentes fases da produção industrial e reduzir a emissão de gases do efeito estufa na atmosfera.
O gerente do ISI Biomassa, João Gabriel Marini, garante tecnologia para alcançar os mais diversos setores da indústria. “A siderurgia, por exemplo, tem bastante emissão e ainda não têm como mitigar. Utilizam bastante combustíveis sólidos. Também o setor de mineração, que tem buscado muitas tecnologias, principalmente de captura de CO², além da indústria de cimento, que também tem bastante emissão”, explicou.
De acordo com a coordenadora de pesquisa industrial do Instituto, Laíssa Okamura, atualmente o ISI Biomassa conduz mais de 15 projetos com parceiros, além dos que estão em processo de negociação. Todos estão voltados para áreas como bioeconomia, descarbonização e economia circular.
“Trabalhamos focados na transformação da biomassa. Então, de qualquer forma, as pesquisas são voltadas para o processo de descarbonização industrial, seja trocando um derivado fóssil pela biomassa ou por derivados de biomassa, ou seja, através da ruptura, conversão e armazenamento direto dos gases gerados durante processos de combustão e emissão”, detalhou.
Ciência revela caminhos para soluções presentes na própria natureza
Especialidade do ISI de Três Lagoas, o uso da biomassa adquire papel de protagonismo na transição energética da indústria. De acordo com o pesquisador Willian Pereira Gomes, a matéria orgânica pode vir de diferentes fontes, como agroindustrial, industrial, resíduos de plantações, entre outros. Em termos práticos, podem se tratar de restos de madeira, cana-de- açúcar, alimentos e eucalipto, geralmente descartados durante no processo de fabricação de produtos.
Nas mãos dos pesquisadores, eles podem se tornar elementos altamente potentes. No projeto DeCarbon, um dos executados pelo instituto, há a conversão de duas biomassas muito conhecidas, o bagaço de cana-de-açúcar e casca de coco verde, em material capaz de captura o CO2.
“Ou seja, essa biomassa, que inicialmente era um resíduo, passa a ser um material de alta tecnologia que será utilizado no processo de descarbonização da indústria, seja sementeira, indústria cerâmica, indústria metalúrgica, siderúrgica e assim por diante”, destacou.
Neste projeto, o objetivo é a produção e ativação de um biocarvão para aplicação em um sistema de captação de CO2, almejando a redução de emissões de gases efeito estufa. O material poderá, por exemplo, ser utilizado como filtro de geladeira ou ar-condicionado.
A possibilidade de captura dos gases permite a reutilização. Sendo assim, parte deles podem ser reintroduzidos na atmosfera em formas menos prejudiciais ao meio ambiente, gerando materiais duráveis, como carbonatos, concreto e polímeros.
A captura de carbono também é uma das etapas do projeto desenvolvido pela pesquisadora Vivian Vazquez Thyssen. Com a utilização de tecnologias CCUS, cuja sigla traduzida do inglês para o português significa a captura, utilização e armazenamento de gases do efeito estufa, o leque de possibilidade de transformação de carbono e metano se amplia. “Desta forma, os gases não serão emitidos na atmosfera e podem ser utilizados para outros fins”, explica.
No projeto Tupã, os gases capturados servem a produção de um combustível limpo. A tecnologia pode ser uma alternativa efetiva para atividades econômicas como a produção de petróleo e gás.
A conversão dos gases para os renováveis acontece utilizando uma tecnologia que funciona a base de energias limpas, como a solar e a eólica, permitindo a criação de combustíveis e produtos químicos e, portanto, a substituição de produtos derivados de fontes não renováveis. Desta forma, reduz a pressão sobre os recursos finitos e se alcança a independência do petróleo e seus derivados.
“Podemos trocar o diesel por um diesel verde, por exemplo, que pode ser utilizado na logística de uma indústria. Há uma gama de combustíveis que podemos utilizar a partir dos gases do efeito estufa. É um processo que já é conhecido, mas que ainda precisa de estudos como este para ser implementado na indústria”, ressaltou a pesquisadora.
Serviço – Mais informações sobre projetos e soluções inovadoras desenvolvidos pelo ISI Biomassa podem ser obtidas pelo e-mail isibiomassa@ms.senai.br ou pelo telefone (67) 3919-2000