Todos os anos, a região do Pantanal, que engloba os estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, é cenário de grandes focos de incêndio, que devastam milhares e milhares de hectares dentro da região. Paralelamente, é comum organizações ambientais e pessoas leigas no assunto logo associarem tais focos a intervenção humana na região. Mas nem sempre é assim. É preciso destacar que a região que engloba o Pantanal é composta por alguns tipos de biomas como o Cerrado e Floresta Amazônica, sendo o primeiro responsável por 70% da cobertura vegetal da região. E o próprio cerrado conta com um processo denominado autocombustão, em dias de umidade do ar relativamente baixa, favorecendo a renovação da vegetação e o controle das espécies.
Outro mecanismo empregado faz parte de um processo conhecido como queima (ou queimada) controlada, e consiste no uso planejado, monitorado e controlado do fogo, realizado para fins agrossilvipastoris em áreas determinadas e sob condições específicas. A técnica é uma prática tradicional em muitas partes do Brasil, mas que deve ser utilizada de maneira segura para que não se torne um incêndio florestal.
Em alguns casos, a ocorrência e a propagação dos incêndios florestais estão fortemente associadas às condições climáticas. Nesses casos, a intensidade de um incêndio e a velocidade com que ele se propaga estão diretamente ligados a umidade relativa e a temperatura do ar, além do efeito direto da velocidade do vento. A utilização de dados meteorológicos de boa qualidade é, portanto, vital para o planejamento de prevenção e combate aos incêndios florestais.
Contribuição geográfica
Por ser uma região formada por um mosaico de áreas de campo, savanas e florestas, além de áreas inundáveis, o Pantanal tem o que chamamos de picos de queimadas quando, geralmente, em setembro (final da seca) as áreas de campo, principalmente aquelas sem gado, acumulam um excesso de capim seco que constitui num material combustível de fácil ignição e de propagação do fogo, o que caracteriza o seu processo de autocombustão.
A prática também contribui para a renovação do pasto e do bioma na região pantaneira, beneficiando, assim, a criação. Um estudo de 2002 da Embrapa, por exemplo, atesta as vantagens da queima controlada no Pantanal. Entre as vantagens, estão o controle a invasão de plantas indesejáveis, principalmente arbustos; a remoção da vegetação velha e fibrosa, rejeitada pelo animal; obtenção de mais espécies desejáveis na composição botânica da pastagem; estímulo ao crescimento em épocas em que ela não ocorre naturalmente e melhora a qualidade da pastagem; além de facilitar a movimentação dos animais e ajudar na distribuição dos mesmos nas pastagens; sendo as cinzas que permanecem após a queima têm efeito fertilizante.
Proteção bovina
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Em outro estudo da Embrapa Pantanal, datado de 2021, intitulado “Por que os bovinos protegem o Pantanal de incêndios – o “boi bombeiro” realmente funciona? Há a confirmação de como as práticas de manejo sustentável são essenciais para o controle do pasto. Nesse sentido, as práticas variáveis podem ser recomendadas para atrair gado para áreas pouco usadas ou não utilizadas com o objetivo de reduzir a heterogeneidade espacial e aumentar a eficiência do pastejo. Sendo assim, a interação de queimadas controladas acopladas ao pastejo de uma forma espacialmente dinâmica, no que se refere a produção de gado e ao habitat de vida selvagem pode ser valiosa para esses ecossistemas.
Para a especialista e fundadora da Fundação Viva Pantanal, Tatiana Scaff Teles, essa medida é benéfica para as regiões de cerrado,como em algumas partes do Pantanal. “A queimada controlada é uma solução para grandes incêndios, pois faz o controle da massa seca e não cresce muito; outra solução é ter o boi no pasto, o que ajuda também no controle”, ressalta Tati.