Durante praticamente uma semana de trabalho incansável, de 24 a 30 de abril, a equipe da Agraer navegou pelo rio Paraguai e aportou na Ilha Ínsua, na região da Serra do Amolar, no Pantanal. Com todo o suporte da Marinha do Brasil, o grupo formado pelos quatro servidores – Yaiza Baís (assistente social), Francimar Perez (engenheira agrônoma), Gildete Lima (socióloga) e Flávia Leal (veterinária) estiveram em contato direto com a comunidade Guató, levando assistência técnica e buscando compreender demandas específicas em torno da agricultura familiar.
“Pelo difícil acesso até essa região o trabalho da Marinha do Brasil é imprescindível. Aqui, podemos trocar saberes com o Povo Guató, ouvir suas demandas para que possamos levar aos nossos gestores”, explicou a servidora da Agraer, Yaiza Baís que vê na expedição a oportunidade de “democratizar o acesso às políticas públicas de agricultura familiar como o PAA Indígena e o Proacinq que foram criados para os povos indígenas”.
Para dona Catarina Guató, que sabe as maravilhas de viver no coração do Pantanal e ao mesmo tempo os desafios de acesso impostos pela própria natureza, a expedição foi tão essencial que ela deseja que sejam feitas outras mais. “Ter uma expedição dos Povos Guatós é muito importante porque não é fácil uma viagem até a cidade. Ter os serviços na porta de casa facilita a vida na aldeia. Muita coisa a gente tem conhecimento com o grupo da expedição. Meu desejo é que vocês venham outras vezes, que tenha mais e mais serviços assim por aqui. Algo que me deixa muito feliz”, avaliou a indígena Catarina.
A viagem vem sendo preparada desde o início do ano. Após dois dias de viagem pelo Rio Paraguai, o grupo aportou na sexta-feira (26), na comunidade tradicional de etnia Guató, localizada cerca de 340 km da área urbana de Corumbá, a ação contou com a colaboração de diversas instituições parceiras. Ao todo, estão sendo oferecidos mais de 30 tipos diferentes de serviços aos indígenas.
Dentro deste pacote estão os atendimentos na agricultura familiar executados pelo Governo do Estado, por meio da Agraer e da Seaf – Secretaria Executiva de Agricultura Familiar, dos Povos Originários e Comunidades Tradicionais – da Semadesc. “Aqui, nosso papel é informar sobre os serviços básicos de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), destacando políticas públicas voltadas aos povos originários, como o Programa de Apoio às Comunidades Indígenas e Quilombolas de Mato Grosso do Sul [Proacinq] e o Programa de Aquisição de Alimentos Indígena”, reforçou Francimar Perez, da Agraer.
Em todo Mato Grosso do Sul, o programa dispõe de R$ 5 milhões para comprar a produção de agricultores indígenas que vivem em 32 municípios. Cada produtor pode vender o montante equivalente a R$ 15 mil ao ano em produtos variados, como hortaliças, frutas, até mesmo queijo, frango, leite e ovos caipira.
“Esta expedição é mais do que uma simples jornada técnica; é uma missão de identificação das necessidades da agricultura familiar para os povos originários. Muitas vezes, essas comunidades enfrentam dificuldades de acesso devido ao isolamento geográfico, e é nosso compromisso garantir que recebam o apoio necessário para prosperar e desenvolver suas atividades agrícolas de forma sustentável”, pontuou o secretário-executivo da Seaf, Humberto Melo.
Pela Seaf, também participaram da expedição os servidores Aparecida Lemos, Antônio Carlos Corrêa e Dionedison Terena.
Os Guató
Considerado o povo do Pantanal por excelência, os Guató ocupavam praticamente toda a região sudoeste do Mato Grosso, abarcando terras que hoje pertencem àquele Estado, ao Mato Grosso do Sul e à Bolívia.
Entre 1940 e 1950 iniciou-se de modo mais intenso a expulsão dos Guató de seus territórios tradicionais por fazendeiros de gado e comerciantes de peles. Foram poucas as famílias que permaneceram na ilha Ínsua, ao ponto de os Guató serem considerados extintos pelo órgão indigenista oficial na década de 1950 e, assim, excluídos de quaisquer políticas de assistência.