Discutir abertamente sobre maternidade permite que tanto instituições públicas quanto empresas privadas entendam melhor as necessidades das mães e sintam-se capazes de promover políticas que favoreçam o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
Com esse propósito e inspirado pela proximidade do Dia das Mães (11), o Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso do Sul (MPT-MS) estimulou a troca de experiências sobre essa jornada tão cheia de desafios e alegrias com uma roda de conversa mediada pela psicóloga Lia Rodrigues Alcaraz, especialista em psicoterapia analítica, luto e neuropsicologia. O encontro foi organizado pelo Comitê Regional de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade e reuniu servidoras e funcionárias terceirizadas, além de outras pessoas interessadas no tema.
Enquanto coordenadora do comitê, a procuradora do Trabalho Rosimara Delmoura Caldeira disse, na abertura do evento, que a iniciativa objetiva servir como um espaço de apoio, acolhimento e compreensão, onde as mães possam compartilhar seus sentimentos e as inúmeras transformações que acontecem na vida de uma mulher quando assume esse relevante papel.
Presente ao evento, o titular regional da Coordenadoria de Promoção de Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho (Coordigualdade), procurador regional do Trabalho Januário Justino Ferreira, destacou a importância de uma abordagem holística envolvendo a proteção integral e o bem-estar da mulher.
“Acho que esse é o momento ideal para mostrarmos a força da mulher, abordando situações específicas como o cuidado com o local de trabalho da mulher gestante, inserindo-se nesse contexto a insalubridade e outras condições impróprias à permanência dela naquele ambiente. Há situações físicas e psicológicas que a gente precisa diferenciar”, enfatizou Ferreira.
Liana Weber Pereira, assessora jurídica e outra integrante do comitê, esclareceu que a ideia de promover o encontro partiu de um questionário aplicado junto às servidoras gestantes e lactantes da regional.
“Nós, integrantes do comitê, estamos à disposição caso alguma mãe, alguém que sinta alguma necessidade, seja no retorno ao seu trabalho ou mesmo nas atividades cotidianas, queira conversar com a gente. Eu, que sou uma recém-mãe, senti dificuldades emocionais no retorno ao trabalho, pois são mudanças muito grandes e que exigem adaptações que precisamos fazer na nossa vida”, comentou Pereira.
Já a procuradora-chefe do MPT-MS, Cândice Gabriela Arosio, elogiou a performance do comitê, que nos últimos tempos vem se dedicando ao debate de temas relevantes, como a proteção dos direitos inerentes às pessoas com deficiência e o enfrentamento ao assédio moral no ambiente de trabalho. “Quero dizer que há em mim um sentimento de gratidão por ser mãe de três crianças, que são três pessoas que compõem a nossa sociedade. E, além disso, saber que a nossa instituição tem um olhar sensível para o cuidado com as mães, principalmente nesse processo de retorno ao trabalho, conforta o meu coração”, agradeceu Arosio.
Ser mãe: uma nova identidade
Graduada em Psicologia pela Universidade Católica Dom Bosco, Lia Rodrigues Alcaraz fez ecoar momentos sensíveis e experiências revolucionárias que permeiam a vida de tantas mulheres quando se tornam mães.
Em sua apresentação, Alcaraz contribuiu com descrições sobre os processos de mudança física, emocional e social, os quais alcançam fases como a gestação e o puerpério; reconfiguração e sobreposição de papéis na vida pessoal e profissional da mulher; projeções que recaem em torno da idealização da “mãe perfeita”; sentimentos de inadequação, culpabilização, autoexigência e julgamento social voltado às escolhas maternas.
“São muitas inquietações na vida de uma mãe. Ela quer ser reconhecida enquanto profissional, quer se sentir capaz de amamentar, precisa lidar com a privação de sono e com as mudanças em sua rotina, quer que o filho se apoie e encontre nela um suporte. E, quando ela entra nessas dualidades, vem um mundo de insegurança”, contextualiza Lia Alcaraz.
Em meio a esses conflitos entre maternidade e carreira, acrescenta a profissional, podem surgir desafios de ordem psíquica para a mulher, como ansiedade e depressão pós-parto, capazes de gerar profundos impactos na produtividade e em sua autoestima. Neste momento, observa a psicóloga, ter acesso a uma rede de apoio bem estruturada, seja no ambiente familiar, em espaços de escuta ou até mesmo acolhimento institucional, por meio de uma comunicação aberta com empregadores, é fundamental para encontrar caminhos que conduzam ao equilíbrio emocional.
“A maternidade exige adaptações profundas e o retorno ao trabalho deve ser tratado como processo e não ruptura, pois, apoiar mulheres nesse momento é investir em saúde mental e bem-estar coletivo”, concluiu Lia Alcaraz.