Apresentador, faquir, palhaço, equilibrista: quem já foi ao circo sabe que estes papéis são majoritariamente interpretados por homens. Em “Circa”, estes estereótipos são quebrados para mostrar uma personagem feminina interpretando estas personas e suas vivências enquanto mulher artista. O espetáculo estreia no sábado (18), às 19 horas, em formato audiovisual e será exibido no Circo do Mato e também terá transmissão online nas redes sociais. Haverá uma intérprete de libras para pessoas com deficiência auditiva.
Na obra, a personagem mulher-artista, interpretada pela atriz Aline Calixto, é a persona que guia toda a narrativa. Ela fica entre o picadeiro e o camarim, espaço este onde tece suas reflexões sobre a temática central da história: a condição da mulher no universo artístico.
“Nesse ponto se iniciou o trabalho de pesquisa, de entendimento para buscar quem são essas mulheres, até mesmo na história do circo – geralmente eram nomeadas com ‘Monga, a mulher macaco, a mulher do atirador de facas, Gorda, Anã’. Entrevistei figuras do circo Perez, em Campo Grande, onde ficou claro traços e histórias demarcadas pela marginalização da mulher, sempre como figura coadjuvante e nunca como central no circo”, conta Aline.
O circo Perez, de Mato Grosso do Sul, não foi somente local de pesquisa da atriz, também foi de onde veio a concepção do espetáculo, pelo autor e diretor Breno Moroni. Enquanto assistia a uma apresentação da artista circense Helenita Perez, responsável pelas acrobacias aéreas do local, ele teve a ideia.
“Ela é uma excelente artista, estava descendo da escada após seu número e cortou a palma da mão. Ela faz lira, trapézio, tecido, então, precisa muito da mão. Depois disso teve que se realocar no circo e começou a vender batata frita. Eu passei a frequentar as apresentações, observar o dia a dia e desenvolver esse pensamento, a questão da mulher no circo, do uso do seu corpo”, recorda Breno.
De sua concepção até sua finalização ele passou por algumas alterações. Idealizado para ser apresentado no teatro, “Circa” teve que ser adaptado para o cinema durante a pandemia. “Nós mexemos no roteiro, uma vez que as câmeras iriam narrar essa história. Em termos estéticos acredito que pode ter chegado a uma potência de expressão artística, pelo fato de o cinema ter muitos recursos para aproximar o público, tornar algo maior, vermos detalhes, expandirmos um olhar, uma sensação, quadros diversos. Mas ainda tenho vontade de fazer para o público, seria interessante em termos artísticos o retorno para o teatro”, reflete a atriz.
Já para Breno, essa mudança se deu de maneira confortável. “Eu achei ótimo, meu conhecimento de teatro e cinema se equivalem, então para mim o prazer é igual em ambas as artes. Foi bom por eu ter conseguido trabalhar, preparar, escrever em casa. E, no vídeo, conseguimos fazer com que a obra fique imortalizada, diferente do teatro, pois quando termina o espetáculo ou a temporada acaba a peça”, pondera.
Com o lançamento da obra Aline acredita que os espectadores entenderão um pouco melhor o papel da mulher na arte. “Acho que primeiramente trará o resgate da memória afetiva que todos temos do circo. Mas, de maneira mais profunda, trará muitas prerrogativas sobre a mulher artista, sobre que é essa mulher, como ela vive, de que maneira usa sua voz, das violências que ela sofre. Que o circo, subscrito no feminino e transgredindo a gramática em ‘CIRCA’, seja a grande metáfora da condição feminina dentro e fora dos palcos”, finaliza Aline.
Este projeto foi contemplado com recursos do FMIC (Fundo Municipal de Investimentos Culturais), da Sectur (Secretaria Municipal de Cultura e Turismo), por meio da Prefeitura de Campo Grande. Mais informações pelas redes sociais do espetáculo: Facebook (@circacineteatro)e Instagram (@circacineteatro).
Serviço
Lançamento do espetáculo audiovisual “Circa”: 18 de dezembro (sábado), às 19h.
Local: Circo do Mato, Rua Tonico de Carvalho, 263, no bairro Amambaí.
Assessoria.