A saúde mental tem recebido cada vez mais atenção e reconhecimento como um aspecto fundamental do bem-estar humano. De acordo com o Instituto Ipsos, a terceira maior empresa de pesquisa do mundo, 53% das pessoas entrevistadas no Brasil afirmaram que tiveram ‘algum comprometimento psicológico’ desde o surgimento da COVID-19 e mesmo após a pandemia buscam por ajuda psicológica. Nesse contexto, os psicólogos desempenham um papel crucial na promoção da saúde mental e no tratamento de diversos transtornos psicológicos. No entanto, um problema recorrente tem afetado a profissão: a desvalorização dos psicólogos por parte dos convênios de saúde.
Muitos convênios de saúde vem remunerando os psicólogos de forma inadequada, oferecendo valores abaixo dos praticados pelo mercado ou estabelecendo limites de sessões que dificultam o atendimento adequado. Essa desvalorização financeira impacta diretamente na sustentabilidade da prática profissional, tornando difícil para os psicólogos manterem a qualidade do serviço prestado, podendo levar os profissionais a recusarem pacientes de convênios específicos.
“Com o valor que pagam é impossível se atualizar e fazer cursos para se aprimorar. Os beneficiários que realizam reembolsos também tem trazido muitas queixas do valor baixo dos convênios, quando procuram bons profissionais de forma particular, sendo cada dia o valor de reembolso e de psicólogos incompatíveis com os valores do Conselho Federal de Psicologia”, explica a psicóloga Talita Padovan.
A desvalorização pelos convênios tem um impacto direto na qualidade do atendimento em saúde mental. Com remunerações insuficientes, muitos profissionais optam por não aceitar convênios ou limitar o número de atendimentos por convênio, o que resulta em uma redução significativa do acesso aos serviços psicológicos para o paciente. Com menos profissionais disponíveis e a necessidade de esperar por longos períodos de tempo, a população acaba sendo afetada diretamente. Além disso, os psicólogos enfrentam uma sobrecarga de trabalho devido à necessidade de compensar a baixa remuneração. Essa pressão pode comprometer a qualidade do atendimento e até mesmo levar ao esgotamento profissional, prejudicando o próprio bem-estar dos psicólogos.
“Os convênios precisam reconhecer que somos essenciais na vida das pessoas, muitos pacientes precisam de auxílio psicológico e por conta disso ficamos de mãos atadas para ajudá-los. Existem inúmeras doenças consideradas físicas mas que na maioria dos casos podem se iniciar de um problema psicológico, e que são tratadas conosco com a psicologia preventiva a outras doenças, evitando assim tantas internações. Quantas doenças seriam evitadas se a ansiedade, estresse e esgotamento mental estivessem sendo trabalhados de forma efetiva com profissionais atualizados? Até quando a saúde mental será negligenciada e o trabalho dos profissionais dessa área será tão desvalorizado?”, enfatiza Talita Padovan.
Do mesmo modo, também há queixas de pacientes sobre o tempo limitado pelo convênio para o atendimento com o psicólogo. É o caso da Mariana Ferreira, que relata a dificuldade de ter um atendimento preciso.“A duração das sessões de psicologia pelos convênios é de 30 minutos, eu faço tratamento para depressão e ansiedade e 30 minutos é muito corrido, sendo necessário ir com um “resumo” em mente para poder conversar, pois não é tempo suficiente para se aprofundar sobre os assunto”, lamenta.
Dessa forma, é de suma importância que os convênios de saúde tomem medidas para reverter a situação e reconheçam a importância do trabalho dos psicólogos, assegurando uma remuneração justa e condizente com o valor do serviço prestado.