Continuidade da parceria entre Proteção Animal Mundial e o Instituto Homem Pantaneiro prevê recursos materiais e financeiros para beneficiar animais silvestres vítimas das queimadas, incluindo suporte profissional para o Centro de Atendimento Veterinário (Cavet) na base da Serra do Amolar
Devido ao atual ciclo recorde de queimadas que afeta o Pantanal e o Cerrado, a Proteção Animal Mundial, organização não-governamental que trabalha em prol do bem-estar animal, intensifica a assistência aos animais silvestres afetados pelo fogo. Em parceira com o Instituto Homem Pantaneiro (IHP), a organização investe em ações de proteção, resgate e tratamento que devem beneficiar milhares de animais. Entre as atividades, destaca-se o aumento da capacidade do Centro de Atendimento Veterinário (Cavet) na base da Serra do Amolar, em Mato Grosso do Sul.
“É o terceiro ano de queimadas intensas na região, causadas pela ação humana e agravadas por negligência, atuação criminosa e efeitos climáticos. Ao nos unirmos com o Instituto Homem Pantaneiro, um parceiro que conhecemos, confiamos e que integra uma rede bem articulada, acreditamos que poderemos fazer mais pelos animais silvestres atingidos”, anuncia o diretor executivo interino da Proteção Animal Mundial, João Almeida, lembrando que os efeitos da parceria serão potencializados na região pelo fato do IHP ser membro do Grupo de Resgate Técnico Animal do Pantanal (Gretap-MS), uma coalizão entre entes públicos e privados formada em resposta à tragédia dos incêndios de 2020.
No final de setembro, uma equipe Proteção Animal Mundial, junto com membros do IHP, visitou algumas das áreas afetadas no Pantanal sul-matogrossense. Estima-se que a parceria possa resgatar dezenas de animais de até 30 diferentes espécies mais afetadas pelo fogo. Onças, antas, porcos-espinhos, jacarés, sucuris, queixadas são alguns dos animais que podem ter o sofrimento aliviado e as vidas salvas. Além disso, o trabalho conjunto vai possibilitar amparo a outras centenas de espécimes, por meio das ações assistenciais, diante dos impactos da perda de habitat, falta de alimento e escassez de água.
“Nosso trabalho de conservação da biodiversidade foi duramente afetado pelo fogo em 2020. Num contexto em que 90% do território sob nossa gestão pegou fogo, pesquisas falam que pelo menos 17 milhões de vertebrados foram mortos nos incêndios”, relata a bióloga Letícia Larcher, secretária executiva do IHP desde 2016. “É urgente traçar estratégias para garantir bem-estar aos animais atingidos pelos incêndios, bem como para que o fogo daqui para frente esteja sob controle. O apoio da Proteção Animal Mundial às atividades de resgate e assistencialismo animal é fundamental para que os animais que vivem no Pantanal continuem seus ciclos, protegidos pelos projetos que executamos”, explica Larcher.
Nesta parceria, as ações estarão concentradas principalmente no Mato Grosso do Sul, com foco especial no Pantanal da Serra do Amolar, formação rochosa que fica na fronteira Brasil/Bolívia, entre Cáceres (MT) e Corumbá (MS), situada próximo ao Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense e a cerca de 150 km do centro urbano de Corumbá, MS.
O suporte planejado inclui a contratação de veterinário e assistente técnico para atuação no Centro de Atendimento Veterinário da Serra do Amolar e financiamento para a compra de medicamentos, equipamentos hospitalares veterinários e recursos como alimentos e água para os animais. O acordo prevê ainda auxílio para aspectos de transporte e logística de forma a possibilitar a cobertura de uma vasta área de 276 mil hectares, que inclui o Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense e cinco Reservas Particulares do Património Natural (RPPNs).
Do ponto de vista da prevenção, o esforço conjunto também envolve a abertura de rotas de fuga para os animais, uma solução técnica que traz ganhos de escala e pode elevar enormemente a quantidade de indivíduos beneficiados antes da chegada das chamas.
Agressões sucessivas
O fogo faz parte da dinâmica natural dos vizinhos Cerrado, localizado em região de planalto, e Pantanal, situado na planície. Mas não nas atuais proporções e nem com a frequência que se tem visto. A agropecuária tem vínculos historicamente documentados com o fenômeno na região, desde a década de 1970, principalmente no Cerrado, o que afeta diretamente a hidrologia do Pantanal, entre outras consequências. Além disso, tem também avançado no próprio Pantanal, agravando o quadro.
Acompanhamentos por satélites e estudos científicos robustos e com séries históricas abrangentes atestam que os danos aconteceram e persistem em todos os demais biomas brasileiros: Amazônia, Caatinga, Mata Atlântica e Pampa.
O impacto severo ao longo do tempo, e que tem se acentuado, aparece associado à agropecuária industrial intensiva. A diferenciação é importante em relação a outras atividades no campo, de pequena ou até grande escala realizada de forma correta e responsável, que acabam inclusive afetadas pela modalidade desmedida.
Os efeitos decorrem do desmatamento, legal ou ilegal, e da transformação do uso da terra para pastagens e, principalmente, para o cultivo de soja e milho utilizados majoritariamente como ração animal na indústria. É comum que áreas desmatadas sejam incendiadas para limpeza e a conversão em pastagens ou para o plantio de grãos. A crescente rentabilidade da soja tem impulsionado ainda mais a conversão de pastos ou da vegetação nativa.
No Cerrado a maior questão é o desmatamento para soja, e, no Pantanal, para pastagem. Segundo dados do MapBiomas, quase 16% da porção brasileira do Pantanal teve sua vegetação original removida até 2019, quase toda para pastagem, enquanto 47% do Cerrado já foi convertido, principalmente para a produção agrícola e pecuária.
A resiliência dos biomas está comprometida. Os incêndios têm aumentado em gravidade, quantidade e frequência, e se somam a outros fatores não sazonais, como perda de habitats, alterações nas dinâmicas de espécies, rareamento de alimentos, pressões de caça e tráfico de vida selvagem, além do processo amplo de mudanças climáticas, resultando em catastrófico impacto acumulado para a fauna e a flora.
“Na Proteção Animal Mundial identificamos que o principal problema no Pantanal, no Cerrado e nos demais biomas brasileiros é a ação humana motivada pela agropecuária industrial intensiva. É nosso papel impedir que os animais silvestres sofram com a perda dos seus habitats naturais, por isso alertamos a sociedade quanto à insustentabilidade e aos impactos que este sistema gera para o meio ambiente, os animais silvestres e a própria vida humana”, finaliza Almeida.
Memória
Com escopo semelhante, mas em caráter ainda mais emergencial diante da velocidade e magnitude inédita dos incêndios que devastaram cerca de 30% do Pantanal, no ano passado a Proteção Animal Mundial estabeleceu parcerias com ONGs atuantes no bioma – S.O.S. Pantanal, Instituto Homem Pantaneiro e Grupo de Resgate de Animais em Desastres (Grad) – para assim ampliar seu apoio por meio de agentes locais, com conhecimento local, domínio das necessidades mais urgentes e específicas, além de capacidade de articulação com outros parceiros. O esforço foi bem-sucedido, proporcionou aprendizados e recebe aprimoramentos.
Sobre a Proteção Animal Mundial (World Animal Protection)
A Proteção Animal Mundial move o mundo para proteger os animais por mais de 50 anos. A organização trabalha para melhorar o bem-estar dos animais e evitar seu sofrimento. As atividades da organização incluem trabalhar com empresas para garantir altos padrões de bem-estar para os animais sob seus cuidados; trabalhar com governos e outras partes interessadas para impedir que animais silvestres sejam cruelmente negociados, presos ou mortos; e salvar as vidas dos animais e os meios de subsistência das pessoas que dependem deles em situações de desastre. A organização influencia os tomadores de decisão a colocar os animais na agenda global e inspira as pessoas a mudarem a vida dos animais para melhor. Para mais informações acesse: www.protecaoanimalmundial.org.br.
Sobre o Instituto Homem Pantaneiro (IHP)
Fundado em 2002, o Instituto Homem Pantaneiro (IHP) é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que trabalha pela conservação e preservação do bioma Pantanal e da cultura local. Sua missão é “preservar o Pantanal”. Tem sede em Corumbá, município localizado no sul do Mato Grosso do Sul, no Pantanal. Entre as ações que realiza está a Prevenção e combate a incêndios florestais na região da Serra do Amolar. O Programa Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar (Rede do Amolar), criado em 2008 sob gestão do IHP, visa propor ações de gestão integrada entre as organizações parceiras para a proteção de um grande mosaico, maximizando meios e otimizando recursos financeiros, técnicos e logísticos. Com uma área de 276 mil hectares, dos quais 201 mil hectares legalmente protegidos, a iniciativa surgiu da parceria entre o IHP, o Instituto Acaia Pantanal, a Fazenda Santa Tereza, a Fundação Ecotrópica e o Parque Nacional do Pantanal Mato-grossense / Instituto Chico Medes (ICMBio) e Polícia Militar Ambiental. O objetivo principal é proteger e conservar a biodiversidade da região, aumentando a área de proteção no entorno do Parque Nacional Pantanal Mato-grossense. Para mais informações acesse: www.institutohomempantaneiro.org.br.
Assessoria.