Após recentes casos de LGBTfobia em Mato Grosso do Sul envolvendo assassinatos e um suicídio, a Subsecretaria de Defesa dos Direitos Humanos de Campo Grande (SDHU), por meio da Coordenadoria Municipal de Políticas Públicas LGBT e Associação das Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul (ATMS), vem a público repudiar os atos de violência e violações de direitos da população LGBT.
Se trata dos casos recentes do dentista Gustavo dos Santos Lima, que tirou a própria vida na quinta-feira (14) em decorreria da depressão agravada por uma caso de preconceito sexual, quando uma mãe se recusou a deixar a filha se vacinar com ele por ele ser homossexual. Na ocasião ela disse: “Não vai se vacinar com esse viado”. Na época, o jovem era voluntário na vacinação contra a Covid-19 em Campo Grande.

Outro caso se trata do Senhor Paulo Quezada Penha, de 67 anos, também de Campo Grande. Ele foi encontrado morto com um fio amarrado no entorno do pescoço e dos pulsos em sua residência, no cruzamento da Rua Aparecida com a Frei Henrique de Coimbra, na Vila Progresso. Há um ano, ele já tinha sido vítima de um homem que fez o mesmo tipo de agressão. Segundo amigos e conhecidos, ele era homossexual, e o crime tem indícios de LGBTfobia.
E por último e não menos grave, o caso da da transexual Stefany Ferreira, de 38 anos, assassinada a facadas e encontrada no quarto da casa onde morava, na sexta-feira (15), em Cassilândia, a 418 quilômetros de Campo Grande. O namorado da vítima é o principal suspeito e mandou uma mensagem para a mãe de Stefany, supostamente após o crime, se despedindo: “Adeus, luto”, dizia. A polícia investiga o caso.
Veja a nota na íntegra das entidades da classe:
À Mídia e Meios de Comunicação.
Prezados jornalistas, editores, redatores de mídia impressa e virtual.
Pela Presente, a Subsecretaria de Defesa dos Direitos Humanos de Campo Grande (SDHU), por meio da Coordenadoria Municipal de Políticas Públicas LGBT e Associação das Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul (ATMS), vem a público repudiar os atos de violência e violações de direitos da população LGBT no estado de Mato Grosso do Sul, ao tempo em que nos colocamos em LUTO PERMANENTE pelas vidas LGBT que foram ceifadas em decorrência da LGBTfobia. Dito isso, cabe aqui ressaltar nossa angústia e tristeza pelos casos recentes que incluem a morte do dentista Gustavo dos Santos Lima e do Sr. Paulo Quezada Penha, de 67 anos, ambos em Campo Grande, e da transexual Stefany Ferreira, que residia em Cassilândia.
No que tange a morte da Sra. Stefany Ferreira – lamentamos duplamente o fato – tanto pela sua vida ceifada, quanto pela negação de sua identidade, pois teve o nome de registro exposto indevidamente pela impressa local de Cassilândia e demais redes sociais de familiares, além de usarem do emprego do gênero masculino para se referirem a ela, demonstrando total desprezo e falta de respeito para com sua identidade de gênero e memória. Cabe frisar, o fato de que, nem mesmo a polícia teve o cuidado de registrar no boletim de ocorrência, o nome social e sua identidade de gênero, o que contribui para a Transfobia.
Tomamos a iniciativa de encaminhar esta Nota Circular com a certeza que nos aproximamos ao repudiar os índices assustadores de violência praticados contra as pessoas LGBT no Brasil e no Mato Grosso do Sul. A brutalidade e covardia motivadas pela LGBTFOBIA como o ódio, aversão, repulsa, agressões físicas, psicológicas e verbal promovem a negação, usurpação e tolhimento de direitos, além de engrossar cotidianamente as estatísticas de homicídios praticados, sobretudo, por uma parcela doentia da sociedade identificada como “pity boys” que agridem LGBT, assim como pelos supostos clientes que procuram travestis e transexuais para se relacionarem afetivamente e/ou programas sexuais.
Entendemos que os meios de comunicações, são de suma importância para o esclarecimento e a educação da sociedade. Esta convicção faz de nós parceiros sem reservas da imprensa brasileira quando se trata de divulgar tais violências e de colaborar com o jornalismo investigativo na busca dos responsáveis por tais crimes. No entanto, não podemos nos omitir – o fato de não raro – de a imprensa colaborar para reforçar os estigmas e, consequentemente, a violência, principalmente contra Travestis e Transexuais, nas vezes em que se refere a elasno gênero masculino. A identidade de gênero é FEMININA, pois mesmo que por nascença o sexo esteja como masculino, a apresentação social está vinculada ao gênero FEMININO.
Todas as vezes que a imprensa reforça o termo “masculino” para se referir as mulheres trans, contribui para intensificar os estigmas, os preconceitos e a discriminação, definindo a mulher a partir da exclusividade decorrente do órgão genital, sem levar em consideração a sua essência e a construção social a ela associada.
Solicitamos, em nome de uma parcela significativa da população, que redatores e os responsáveis pelos meios de comunicação impressos, televisivos ou digitais incorporem em suas matérias o artigo feminino ao se referirem às travestis e transexuais. Com esta providência, além de qualificar o conteúdo da informação disponibilizada ao grande público, estarão contribuindo para atenuar e/ou reverter os índices de criminalidade e de exclusão social praticados contra travestis e transexuais.
Portanto, sempre ao redigirem matérias que envolvam Travestis e Transexuais recorram ao gênero feminino (AS TRAVESTIS, DAS TRAVESTIS, A TRAVESTI, UMA TRAVESTI). A aplicabilidade do gênero masculino só se justifica nos casos em que a referência do sexo biológico é feminina, mas a identidade social e de gênero, é masculina.
Agradecemos a ampla divulgação desta Nota Circular junto aos seus funcionários e demais profissionais da mídia e imprensa.
Atenciosamente.
Amadeu Borges
Subsecretário de Defesa dos Direitos Humanos de Campo Grande
Cristiane Stefanny Vidal Venceslau.
Coordenadoria Municipal de Políticas Públicas LGBT.
EloysaDeomar Freitas
Coordenadora Geral ATMS
